Saímos de Delhi muito cedo para nos pormos a caminho do Taj Mahal. Deixamos o hotel as 5h00 da manhã, ainda de noite, com o Shivram e o nosso motorista que nos vai levar até a Udaipur, a partir daqui conhecido por Mr. Boss! Ele diz que nos vai levar aos melhores sítios da Índia, que se nós o deixarmos decidir, vamos ver as melhores coisas. Vamos ver… Estamos um pouco escaldados com guias porque no final querem sempre mais dinheiro e corre sempre mal. Termina sempre com “discussões” e nós com a nossa experiência estragada.
O único guia que gostamos foi o da Tanzânia, que de facto fez trinta por uma linha para que nós tivéssemos a melhor experiência de sempre – e tivemos! Mas analisando bem, demos-lhe 20€ no final de cada dia, por isso não sabemos se foi espontâneo ou se foi pelo dinheiro…
Sem que nos disséssemos nada, Mr. Boss disse que Vrindavan era um sítio muito bonito e que valia a pena, se nós queríamos ver e eu, que já sabia e já estava na minha lista, disse logo que sim. Até porque já tinha decidido que não tínhamos tempo e já tinha saído do nosso itinerário.
Vrindavan é uma vila muito pequena que respira espiritualidade, onde Krishna cresceu, com templos hindus por todo o lado (Mr. Boss diz “too many temples!”), a rebentar de hindus e “holy men”. Há várias maneiras de chegar aos templos: carro, cavalo, caminhar e medindo todo o percurso com o corpo.
Eu explico! Deitam-se no chão com os braços estucados para cima, voltam a levantar-se e dão um passo até onde as mãos deles estavam quando se deitaram e voltam a fazer o mesmo. Tipo minhocas… De loucos! Vemos também ocidentais que aderiram ao modo de vida hindu e vieram para cá para viverem neste meio espiritual.
Confesso que nos soa um pouco parvo e o aspeto deles roça o ridículo, com vestes indianas que transbordam cor, a mancha colorida entre as sobrancelhas, olhos cheios de opium e anestesiados pelas drogas legais que lhes toldam o espírito. Cantam e dançam num estado de transe, mexendo-se como se estivessem hipnotizados pela magia de Krishna. “Hare Krishna! Hare Rama!”, cantam eles, adorando o deus Krishna, que nasceu azul e morreu preto. Pedem paz, serenidade, saúde e uma vida longa de amor e felicidade. “Paz no mundo! Aleluia!”
Isto soa-me a cérebros fritos de tanta droga! Mas por outro lado é encantador ver e sentir esta magia e há no ar uma espécie de mística e serenidade que dança ao som da música entoada por todos. Apetece cantar e dançar com eles. Há flores amarelas, vermelhas e laranjas por todo o lado, cores dos pós que eles atiram para os deuses e tecidos cheios de cores fortes para agradar aos deuses.
Sempre que alguém entra no templo, tocam num sino para que Krishna acorde e ouça as preces de cada pessoa. Uma inglesa, que já mora aqui há uma série de anos, convida-nos para uma festa que vai haver logo à noite em honra das vacas sagradas. Tem os olhos vidrados, sorri e envia-nos boas energias com o olhar.
Foi com muita pena que abandonámos este templo e seguimos caminho para Matura, outra vila muito pequena onde Krishna nasceu. O templo é exatamente o sítio onde ele nasceu. Aparecem logo um sem fim de indianos a perguntarem se queremos um guia e colou-se um ao Shivram. Quando entramos, apercebemo-nos que ele não falava inglês, só hindu! OH NÃO! Experiência estragada… Os guias são lixados… Ele falava e explicava tudo, com muito empenho e olhava-nos muito intensamente nos olhos… Mas tudo em hindu!
Não percebemos uma palavra de tudo o que ele disse! Ele fazia os gestos e dizia as rezas dele e nós imitávamos tudo, sem saber o que estávamos a fazer ou a dizer. Parecíamos tolinhos, honestamente! Um indiano explicou-nos em inglês onde Krishna tinha nascido e lá fomos nós, tocar na pedra que tinha visto o tão adorado deus nascer. A pedra é preta e eu fico sem saber se já era assim ou se é preta de tanta mão suja que já lhe tocou… Se nos virarmos de costas para a pedra preta, vemos uma parede que divide esta pequena sala de uma gigante mesquita, construída pelos muçulmanos que (as usual!) optam por erguer as suas construções mesmo em cima dos locais sagrados das outras religiões! Claro, com monumentos muito maiores e mais opulentos!
Há macacos por todo o lado, que tentam roubar tudo o que os turistas tenham nas mãos! Mexem no lixo, à procura de comida e acasalam por todo o lado, sem vergonha ou filtro! Matura é uma vila muito pobre, tal como Vrindavan, cheia de carros, bicicletas e indianos que percorrem as ruas sem medo de acidentes. Pedimos ao Mr. Boss para nos levar até à beira rio e paramos num ghat. Um ghat é onde se queimam os corpos e se lançam as cinzas ao rio. Tiramos umas fotos e seguimos caminho.
Quando chegamos a Agra eu já estava a dormir pesado. Paramos o carro perto de uma das entradas para o Taj Mahal e o resto fizemos a pé. Estava uma fila enorme, em que 95% eram indianos. Vimos poucos ocidentais, para o número pesado de indianos. Ninguém me podia preparar para a primeira imagem que se tem do Taj Mahal… O monumento está rodeado de muralhas vermelhas, cor de sangue, que contrastam com a pureza do branco da mármore e com o verde das árvores e relva e com o azul das águas das fontes que enquadram a imagem.
A primeira imagem é através da grande porta vermelho sangue com inscrições árabes. É maravilhoso e indescritível! Tiramos imensas fotos a tudo para mais tarde recordar as sensações que sentimos. O interior do Taj é muito pequeno. Não estava à espera que fosse assim… É um espaço circular que deve ter de raio no máximo 12 metros. À volta desta nave central há uns espaços com padrões árabes onde as pessoas se sentam, apesar de dizer que é proibido sentar ali. Assim como diz que não se pode tirar foros e toda a gente tira, inclusive nós! No entanto, o mais incrível deste espaço são as fotos que tirámos com indianos!
Cedemos à primeira foto e quando damos por ela, temos uma fila de pessoas que também querem tirar fotos connosco. Cada um tira umas 5 fotos e venha o próximo! As crianças são adoráveis e deram fotos incríveis! Uma das meninas só queria brincar comigo e estava sempre a dar-me “high fives” e a rir-se para mim. À saída, queria agarrar-me na mão e não me queria largar mais! Dava-me beijos nas mãos e queria tocar-me na cara. Juntei a minha testa à dela e demos uma turra muito boa e fofinha! Tive de lutar para tirar a minha mão da dela porque o Diogo e o Shivram já estavam bem longe de mim! Foi amoroso!
Fomos almoçar ao Joney’s e os três comemos muito bem por 6€, os 3!!! CARO, muito caro!! Tirámos a foto da praxe com o Joney e seguimos caminho para ir ter com o Mr. Boss para deixarmos o Shivram na estação para ele voltar para Delhi. Despedimo-nos calorosamente do nosso amigo com promessas de o ver em breve em Portugal!