Hoje não há muito para dizer, exceto que foi um dia passado em viagem entre Jodhpur e Udaipur. A viagem foi bastante longa, através das montanhas e florestas, cheias de macacos de cara preta, em estradas péssimas e cheias de buracos, entre vilas e pequenas cidades.
Despedimos-nos de Jodhpur, já com saudade. Apesar de ter sido a cidade mais suja onde estivemos na Índia (e provavelmente no mundo inteiro, até agora), deixou a sua marca, bastante positiva, pelo choque cultural e pelas diferenças que encontrámos aqui, pelo forte “de Mordor” (senhor dos anéis) todo glorioso em cima da montanha, pelo azul e sangue espalhados das paredes, os laranjas dos turbantes, os cheiros, a comida, os sorrisos, as ruas estreitas e sinuosas, os cânticos muçulmanos, os fogos de artício…
O nosso hotel era excelente, apesar de só ter custado 37€ as duas noites e de não ter o melhor aspeto possível (não é nenhum hotel de luxo), com uma vista incrível para o forte, todo vermelho sangue por fora e azul forte por dentro, com 3 andares, mais o piso do restaurante (onde se come maravilhosamente bem) e o terraço com vista para os telhados da cidade toda!
Quando deixámos o hotel, dissemos que íamos fazer uma avaliação muito positiva no booking e o dono (modelo indiano chamado Gucci! Imaginem!) saltou de alegria!
Tivemos de voltar ao banco para trocar mais notas de 1.000 rupias e desta vez fomos a 2 bancos, porque eles anotam num papel (e não num sistema informático) os nossos nomes, por isso mais nenhum banco tinha como saber se já tínhamos trocado ou não. Enquanto estávamos na fila do segundo banco, havia tantas indianas atrás e à minha frente que uma delas, na ansiedade de entrar no banco, até me deu um murro no nariz! Nem desculpa pediu. Passados uns minutos já me dava cotoveladas nas costas, disfarçadamente, e quando eu olhava para ela, nem pestanejava. Há pessoas difíceis em todo o lado, bolas! Depois lá dentro ainda me empurrou para passar por trás de mim… Enfim!
A caminho de Udaipur, parámos num Templo Jainista, onde os crentes que lá vivem não podem sentir emoções, são vegetarianos e não podem comer nada que nasça da terra (das árvores sim), nem comer nada que tenha sabor. Por exemplo, a fruta é desfeita, passada por água até o sabor desaparecer. Se os pais os forem visitar, eles não podem se emocionar, é como se fosse outra pessoa qualquer. Em Delhi, chegámos a brincar com este assunto com os amigos do Shivram, e foi dito que se vissem um jainista lhe davam um pontapé nos tomates para ver se ele se emocionava… Brincadeira, claro!
O templo é lindíssimo e apesar de sabermos que depois em casa nunca vamos usar metade das fotos que tirámos, parece que em cada esquina a foto é melhor do que a anterior. Devo ter tirado umas 50 fotos… É um espaço imperial, cheio de pilares em mármore branco, cheios de figuras de animais e apsaras, onde nem um único milímetro é deixado em branco ou por trabalhar. É hipnotizante e mágico! Os jainistas cumprimentam-nos e nós entreolhámo-nos tipo “será que ele se emocionou?” e sorrimos em silêncio! É estritamente proibido tirar fotos aos deuses e nós assim tirámos! Muito disfarçadamente, só a um e outro! Para um deles até pedi autorização e o indiano não entendeu e deixou! Pateta!
Depois o Mr. Boss lá nos deixou em Udaipur e nós fomos pousar as nossas malas, já bastante pesadas com os souvenires que vamos comprando para a nossa vitrine da nossa casa nova. Este é o primeiro hotel que deixa (muito) a desejar… A entrada é top! Porta dourada, inscrições, cores fortes, uma livraria antiquíssima maravilhosa… o quarto é uma bosta! Nós marcámos o quarto superior, tipo “não deve ser o pior de todos” e foi uma banhada! Nem janelas tem! Mas pelo menos está minimamente limpo.
A almofada do Diogo tem um bocadinho de sangue, mas trocaram. Não havia papel na casa de banho, mas trouxeram. O quarto melhor é o Deluxe! AH!!!! Por favor, sim? Deixem de usar palavras caras para confundir o cliente, ok? Superior não é isto! Isto é muito básico, na melhor das hipóteses!
Fomos passear para aliviar o stress e expulsar a má vibe que teima em nos perseguir e fomos jantar a um restaurante do outro lado do rio, para termos a vista maravilhosa para a cidade. O restaurante pertence ao um hotel 5 estrelas e chama-se Upré e tem a melhor vista sobre a cidade, que à noite se ilumina de luz e cores. Bem, foi a melhor carne de cordeiro que eu já comi na minha vida inteira! Tão, mas tão macia… desfazia-se na boca! O arroz de cominhos, maravilhoso! Pedi um mojito para brindarmos… o Diogo começa a tremer de febre, corre para a casa de banho e vomita tudo…
Tive de comer a correr para salvar o meu marido de desfalecer em pleno restaurante. Agora estamos no hotel, ele cheio de febre e a suar em bica graças ao benuron, depois de uma chamada via skype para a médica de serviço (a minha mãe) para nos dizer o que fazer. Já estava em pânico, sem saber o que lhe fazer… Eu? Estou fina como um alho! Comemos mais ou menos as mesmas coisas e a mim não me deu nada. Para já…. Vejam as cenas do próximo capítulo!
Depois do choque de chegar a um hotel pior do que o que estávamos a contar e depois de uma noite bem passada, saímos do hotel com um plano bem definido, para tentar aproveitar o máximo que esta cidade tem para oferecer.
Então, fomos tomar o pequeno-almoço a um café referenciado pelo lonely planet, que diz ser um café francês (para quem anseia por um pouco de comida europeia). Lá fomos nós! À espera de comer um croissant, um cafe au lait, um jus d’orange… Com uma vista top, lá nos sentámos e começámos a ver o menu. Bem, até salivámos!
O Di, coitadito, com ordens da médica, só podia comer pão seco e água, estava tristíssimo. Eu pedi um pão de cereais e um copo de leite fervido. Não é que o homem se vira para nós e diz que só tem pequeno almoço indiano??? Oh pá! Monhé duma figa!!! Fiquei triste como a noite! Lá pedimos as tradicionais torradas com manteiga e mel e o leite. O Diogo ficou-se pela torrada sem nada e água!
Descemos e fomos à descoberta do City Palace, um museu gigante, tipo fortaleza, toda em mármore branco e pedras gigantes brancas, com inscrições e pinturas dos marajás. Jardins muito bonitos e esplanadas viradas para o lago e o grande hotel Taj!
Entrámos no barco, recusando veemente entrar no museu, e fomos dar o nosso relaxante passeio de barco pelo lago, tirando fotos às fachadas imponentes e super trabalhadas de Udaipur. Passámos pelo Upré (onde tínhamos jantado na noite anterior), pelo Taj e parámos na tal ilha/hotel. Tudo é trabalhado, com grandes elefantes majestosos que marcam a entrada do grande hotel.
Perdemos aqui uns 20 minutos, depois de tirar todas as fotos possíveis, e voltámos para Udaipur. Fomos almoçar e começamos a procurar um sítio onde pudéssemos fazer a aula de tabla e de culinária. Encontrámos primeiro a aula de culinária e conseguimos ter uma aula privada, só para nós os dois, onde pudemos escolher os pratos que queríamos aprender. O Diogo, como acha que eu já faço um bom caril, preferiu que eu aprendesse a fazer uma batata que provámos em Jodhpur e que era deliciosa chamada Malai Kofta. Pedimos para aprender a fazer o famoso Lassi, o Nan, o Chapati e Parantha, que são três tipos de pães semelhantes mas que depois ficam bastante diferentes!
A senhora foi muito querida e deu-nos dicas excelentes para podermos usar o que ela nos estava a ensinar para fazer mais coisas, não só o que nós tínhamos pedido. Foi muito porreira! Tenho a dizer que a porra da batata ficou uma delícia!!! O Lassi que escolhemos foi o mais típico do Rajastão – Lassi de açafrão e caju e ficou de babar! Os pães são bastante mais difíceis de se fazer, requer mais técnica, mas nada que a prática não cure! Saímos super contentes, depois de 2h a cozinhar e mais 30 minutos a comer o que tínhamos cozinhado, mais um arroz de sementes de cominhos que ela nos ofereceu… escusado será dizer que o Diogo não podia comer nada disto e por isso tive eu de comer tudo. Comi por dois e saí de lá a rebolar! Claro que já não fomos jantar. E ficou bem mais barato que qualquer jantar! Foi top!!! Recomendo!
Fomos até à loja de música que tínhamos visto e perguntamos o preço, que depois de negociado, nos agradou e ficámos. O senhor lá começou a ensinar o Diogo as técnicas e os nomes dos sons que o tabela faz e depois passou-lhe os tambores para ser ele a fazer. Na minha opinião, um bom professor precisa de alterar a sua técnica de ensino perante cada aluno e ele não o fez. Queria que o Diogo aprendesse da forma que ele estava a ensinar e estava a sair tudo torto. Lá encontrámos a forma certa de aprendizagem e o Diogo conseguir criar dois ritmos diferentes e ficámos super contentes. Fizemos vídeos, boomerangs e gravámos o som também!
Foi um dia muito bem passado, com o Diogo a sentir-se bem melhor, mas a passar fome na aula de culinária… Que dó! Ver tanta comida boa e não poder provar sequer… Foi muito corajoso!
Terminámos o dia a comprar um casaco super giro para o Diogo, estilo Rajastão, que eles vão enviar para Varanasi, para podermos estar no melhor hotel que marcámos em grande estilo, como marajás!
Amanhã seguimos para Mumbai! BOLLYWOOD STYLE!!!
2 Responses
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