Perito Moreno + Torres del Paine

Novembro 2017

Perito Moreno

Acordar sem despertador de férias é top! Hoje foi um dia desses. Acordámos com calma, tomámos o pequeno-almoço sem pressas e fomos conduzindo em direção a Calafate para irmos a Perito Moreno, um glaciar enorme na Argentina, que avança lentamente quebrando o que está mais à frente caindo na água gelada.

O David, o dono do hotel deu-nos mais algumas dicas relativas à viagem até Calafate (a cidade que fica antes do glaciar e que ficava a 267km ou a 3h20 do hotel) e nós como bons meninos cumprimos ordens. Saímos às  9h30 do hotel.
Segundo ele, deveríamos ir a uma fronteira mais abaixo que não conta com tanto fluxo de pessoas e seria mais fácil e rápido para passar. Assim fizemos. Quando lá chegámos éramos os únicos lá e num instante estávamos do lado da Argentina. Tivemos de apresentar os documentos do carro junto com o documento de permissão para conduzir na Argentina e os 4 passaportes.

O David também disse que nos ia aparecer uma estrada a dizer Calafate mas que a estrada era péssima e que por isso era melhor fazer mais 140km para chegar ao mesmo destino. Se fôssemos por essa estrada, como estava cheia de buracos, íamos demorar o mesmo tempo. O problema é que passámos por uma saída e distraídos a conversar (curiosamente, não nos falta assunto mesmo estando 24h sobre 24h sempre juntos) não vimos a saída.  Quando reparámos já tínhamos andado quase 15km. Demos a volta e a meio dos 15km, a Sandra perguntou se aquela saída não seria a que o David nos tinha falado… Era! Toca a dar a volta de novo para irmos pela estrada boa. A Sandra foi escolhendo um restaurante para almoçarmos em Calafate e escolhemos um de comida tradicional chilena. Vimos no lonely planet que a entrada no parque custava 215 pesos argentinos, ou seja quase 11€ por pessoa. Aceitável!

Andámos, andámos e andámos e parecia que os km de distância a Calafate não desciam… alguma coisa não estava certa… nunca mais víamos Calafate no horizonte e estávamos a desesperar. Chegámos lá 4h30 depois! Com o desvio do David tinhamos perdido 1h. Começámos a fazer contas e para almoçar, ver o glaciar e voltar, já não passávamos a fronteira antes desta encerrar (sim, aqui as fronteiras fecham). O Diogo de repente lembra-se de ver escrito o horario de funcionamento das 8 – 20h mas não tinha a certeza se fechava às 20h ou às 22h. Fazendo contas: saímos as 9h30 e chegámos a Calafate às 14h30 dá 5h de viagem mais 1h de Calafate até Perito Moreno, ou seja 6h. Como já eram 14h30, se demorássemos 6h, já dava 22h30. Ou seja, não tinhamos tempo de ir a Perito e ir dormir a Puerto Natales onde tínhamos as malas, roupa, artigos de wc, etc. Tínhamos de fazer concessões. Ou almoçamos, víamos o glaciar e dormíamos onde calhasse do lado da Argentina, ou desistíamos de ir ao Glaciar, que era o único motivo da nossa vinda ali, dávamos meia volta e íamos embora.

Nenhuma das situações nos agradava, mas tinhamos de ver o glaciar! Eu só dizia “Força, foco e fé!”, vamos conseguir chegar a horas! Então decidimos todos em conjunto que não íamos almoçar (comíamos qualquer coisa super rápido), íamos a correr para o glaciar, ficávamos lá 5 minutos (ou até cair um pedaço de gelo) e vínhamos embora! Então, parámos num sandwicheria, almoçamos o mais rápido que conseguimos, fomos encher o depósito de gasolina e prego a fundo até ao glaciar!

Quando chegámos à entrada, íamos a sair do carro quando chegou o “ranger” do parque e nos disse que a entrada era 500 pesos e não os 215 que estavam no livro… o problema é que tínhamos o dinheiro todo contado e não tínhamos suficiente para entrar… não aceitam cartões de crédito, nem outras moedas! Nas nossas caras só se lia desilusão, desalento e incredibilidade no que estava a acontecer. O meu cérebro só pensava “Não, não… não pode ser! Não! Isto não está a acontecer… não pode ser! Não acredito! Não fizemos 10h de viagem, quase 1.000km para chegar tão perto, bater com o nariz na porta, dar meia volta e voltar para trás!” Estávamos a 1h de distância de qualquer casa de câmbio, o “power ranger” do parque não nos trocava dinheiro e nós estávamos incrédulos neste cenário. Estávamos a 30km do glaciar e não conseguíamos entrar.

.. Estávamos todos a olhar uns para os outros quando o ranger disse que podíamos pedir a outros carros para nos trocar dinheiro. Que grande idéia!!! Parámos logo o primeiro carro e perguntamos se nos fazia o favor de trocar 1.000 pesos. Depois de contar o dinheiro todo que tinha, disse que só tinha 300 pesos… e o Mário já se estava a preparar para fazer contas quando chegou um senhor e disse que só tinha 1.000! PERFEITO! Passa para cá os pesos!! Estávamos safos! 15 minutos depois de termos sido barrados, já estávamos a percorrer os 30km para o glaciar. 

Tenho a dizer que o primeiro impacto do avistamento do glaciar é brutal! Ninguém nem nenhuma foto da internet me preparou psicologicamente para ver o glaciar pela primeira vez. É uma massa de gelo que faz um muro cheio de escarpas com 70metros de altura e 5km de largura. Atrás desse muro vê-se o gelo a avançar como uma onde gigante que paralisou e vai empurrando lentamente o muro para a frente, criando fissuras e mais escarpas que se vão partindo e caindo na água gelada!
Estacionamos o carro e percorremos quase a correr o passadiço em grade (foi top para as minhas vertigens) para chegarmos o mais perto possível do glaciar.

Não tenho mesmo palavras para vos descrever isto… como já disse, é uma massa de perder de vista que parece que nos vai engolir. Quando o primeiro pedacinho de gelo (que foi pequeno) caiu, parecia um tiro com o som de uma bala a entrar na água. Os maiores pareciam bombas a rebentar! Tirámos fotos e selfies, saltos e no primeiro vídeo que comecei a fazer, um pedaço GIGANTE de gelo solta-se da massa e cai na água e larga um som de uma bomba atómica. Estávamos cerca de 20 pessoas naquele momento, naquele miradouro, e toda a gente, sem excepção, soltou um grito de comemoração, de vitória, de êxtase, de excitação, palavrões foram ditos em várias línguas e risos e gargalhadas acompanhadas pelo som de todas as máquinas a tirar fotos. Clique, clique, clique, clique, clique…. 50 fotos ao segundo! Foi uma emoção que originou arrepios na alma e chegou a tocar o assustador de tão intenso que foi!
“Vamos embora, pessoal!” disse o Diogo, mas ninguém se conseguia mexer.

Estávamos anestesiados e hipnotizados pelo glaciar, com um sorriso de orelha a orelha estampado no rosto. Mas lá fizemos o esforço para ir embora, sempre com um olho no glaciar. Tínhamos chegado às 16h30 e tínhamos combinado que íamos ficar só 5minutos, mas quando chegámos ao carro eram 17h00. “Caramba!! Temos de assapar!” Tínhamos 6h00 de viagem pela frente, o que significava que só lá chegávamos às 23h. A caminho decidimos que íamos arriscar e íamos pela estrada que o David nos tinha dito para não irmos. Quando lá chegámos, virámos para essa estrada que o gps dizia demorar 4h00 até ao nosso hotel. A estrada não era assim tão má e num instante estávamos na fronteira! Nem queríamos acreditar que às 21h00 estávamos a entrar no Chile… fomos diretos para o restaurante que? Estava fechado! Fomos à escolha seguinte, um restaurante de marisco mas que não correspondeu às expectativas. 
Estávamos tão cansados que o plano para o dia de amanhã foi vetado e optamos por deixar de lado os pinguins e a Terra do Fogo e combinámos que até 2022 vamos à Antártida ver os pinguins!

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