Kathmandu – 1ª escala
Depois de termos terminado a viagem desde a fronteira com o Tibete até Kathmandu, uma viagem que temos consciência que foi a mais perigosa que fizemos até hoje, entre ravinas e escarpas, onde passamos por vezes no meio de restos de derrocadas, chegámos ao hotel, completamente rotos, esgotados, partidos em pedaços, a sentirmo-nos como os dois velhinhos que quase somos. Tudo doía, após 8h dentro de um carro a balouçar por todos os lados non-stop, para fugir de pedras e buracos maiores, pessoas, autocarros e motas, e por isso, fomos dormir depois de jantarmos no hotel (Nepal Pavillion Inn, no meio do caos de Thamel) o mais rápido que conseguimos.
No dia seguinte, fomos à Durbar Square, onde pagámos 1.000 rupias cada um (7,8€/pessoa), para podermos testemunhar a destruição maciça porque este povo passou no dia 25 de abril de 2015. O Diogo, que tinha cá estado em 2010 e conheceu Kathmandu antes do terramoto, só me contava onde esteve e o que fez em determinados sítios, que agora estavam totalmente destruídos e no chão, desfeitos em pó e tijolos. Neste desastre morreram cerca de 9.000 pessoas por todo o país…
Vemos relatos de pessoas que sobreviveram e vimos imagens do antes e depois e de facto é chocante e aterrador passar por tamanho desastre natural. O maior sismo que sentimos foi de 5.3 em Vanuatu, mas talvez por ser uma ilha ou por a construção ser melhor, nada caiu nem ficou destruído. Apenas abanou tudo e as pessoas continuavam a sua vida normal durante o abanão, como se nada estivesse a acontecer. Esta zona do mundo está assente em placas tectónicas que, segundo estudos, dizem que de 80 em 80 anos, em média, está previsto um acerto dessas placas. Por isso, todo este trabalho deve ser bem estruturado a pensar num futuro acidente, que não está em causa se vai voltar a acontecer, mas sim quando.
Conseguimos perceber que também estão a ser feitos estudos no sentido de perceber o porquê de terem caído só partes dos templos (devido a partes estarem assentes em fundações bem estruturadas e outras em lama) e que estão a reconstruir tudo da melhor forma, para que quando voltar a acontecer, todo este trabalho não tenha sido em vão.
Apesar de estar tudo muito degradado, assente em estacas, com paredes ainda tortas e ainda em construção/recuperação, a praça está repleta de arquitetura nepalesa, de construção em tijolo típico, de madeiras escuras, muito trabalhadas, com pinturas dos deitis, figuras mitológicas cobertas com pós vermelhos e amarelos das tintas que eles usam nas suas rezas e em qualquer cantinho encontrámos templos budistas e hindus.
Fomos ver o Palácio da menina deusa, certos que não íamos ver a Kumari, recusando à partida um guia que nos garantia que a íamos ver se fôssemos com ele.
A Kumari é uma menina de 4 anos, escolhida entre várias de uma casta budista específica e depois de passar por vários testes e requisitos severos, é retirada aos pais, para viver enclausurada como deusa, até lhe aparecer a primeira menstruação, após a qual acreditam que a deusa deixa o seu corpo e voltam a escolher outra menina.
Estávamos a tirar fotos ao pequeno pátio interior, quando um dos guias lá presentes com turistas, nos disse para nos pormos de um dos lados do pátio porque a Kumari ia aparecer na janela. Proibidos de tirar qualquer foto, olhámos para a dita janela onde ela, por breves segundos, deu o ar da sua graça, olhando fixamente para cada um de nós, que devíamos ser uns 10. Dita a tradição que apenas um relance da Kumari e somos abençoados com boa sorte. Venha ela, que nunca é demais! Tenho a dizer que não se ouviu uma mosca a passar, tal era o silêncio e empenho de todos em receber as boas energias dela.
Depois de sairmos da Durbar Square, fomos até Boudhanath, uma stupa budista (porque ainda não tínhamos visto suficientes…), no meio do caos e do pó de Kathmandu e fomos almoçar a um restaurante com vista para a Stupa, mesmo em frente à entrada, do qual não nos lembramos do nome, apenas sabemos que faziam pizzas e estávamos a precisar de alguma comida ocidental, sem picante! Era qualquer coisa stupa view!
Demos a voltinha tradicional (sempre no sentido dos ponteiros do relógio para não cruzar energias boas com más e não quebrar todo um ciclo cósmico) e voltamos ao hotel para descansar. Agora estamos a ver viciadíssimos o “The Good Place” e aproveitamos todos os minutos para o ver, inclusive durante as viagens de taxi. Eu sei… maluquinhos!
Kathmandu é uma cidade muito suja, com nuvens de pó por todo o lado e a cada passo parece que estamos a trincar terra na boca. As ruas estão cobertas de pó, cuspe e escarro, lixo, água castanha e preenchidas com nepaleses vendedores de rua que nos querem vender xadrez, flautas e violinos (e droga de vez em quando). Só coisas super úteis que nos fazem imensa falta em casa. Quem não quer ter um violino ou uma flauta nepalesa em casa para tocar nas horas livres?!
Postes de alta tensão cobertos de fios partidos, a pedir para serem tocados a qualquer momento para eletrificar uma alminha, alpinistas a chegar dos Himalaias, com as caras queimadas, pés num oito e sujos da cabeça aos pés (questiono-me se foi assim que chegámos), carros que passam tangentes a tudo, bicicletas tipo tuk-tuk que nos abordam a todo o instante, vendedores de fruta, taxistas que nos chamam para nos levar sei lá onde, motas em todos os sentidos que aparecem do nada caídos do céu, apitos, músicas, flautas e violinos a tocar, barulhos das obras constantes de reconstrução do terramoto, lixo, vassouras que nos varrem pó para os pés, carros que salpicam lama ao mesmo tempo que quase nos passam por cima de um pé e pessoas, pessoas, pessoas e mais pessoas… é o caos instalado e parece impossível reeducar este povo de tão bons princípios e índoles francas a terem consciência ambiental e a serem mais limpos!
Sabe tão bem voltar ao hotel, ao silêncio que os pombos atracados na nossa janela nos dão, tomar um banho, relaxar e sair para jantar! E foi exatamente o que fizemos! Fomos a um restaurante italiano “The Roadhouse”, em Thamel, mesmo perto do hotel, onde comemos um penne com cogumelos e trufas maravilhoso e bebemos Sommersby, com um cheirinho a casa, que soube deliciosamente bem.
Fomos dormir, confortáveis e adormecemos a ver o clássico “Psico”, pela curiosidade que o “Bates Motel” nos deu.
Sabe tão bem acordar sem despertador, tomar um bom pequeno almoço (no Pumpernickel Bakery) e passear sem pressas de ir a lado nenhum, sem horários para cumprir e perdermo-nos nas ruas e vielas de Kathmandu.
Fomos até Patan mas, como a Durbar Square, estava tudo destruído e em recuperação. Saltámos, tirámos fotos e voltámos para Thamel e fomos almoçar ao “Third Eye Restaurant”, onde comemos um caril de galinha e outro de borrego, “mild spicy” porque não sabem fazer “non spicy” apesar de dizerem que sim, que nos deixou a deitar fogo pelos olhos. Fomos tomar um café e um chá de gengibre a um rooftop, onde conseguíamos ver todo o caos a acontecer abaixo de nós, entre cabos e fios elétricos.
Kathmandu assemelha-se à minha experiência na Índia e, por esse motivo, o choque cultural não aconteceu, mas não fica atrás da “Incredible Índia”, como nós a sentimos.
Voltámos ao hotel para mais um momento zen, ao som de pombos e apitos longínquos para irmos jantar ao Northfield, onde eu comi o NFC burger e o Diogo um burrito!
Hoje foi dia de comer e dormir para amanhã irmos para a ultima etapa da nossa pequena aventura – Bahrein – onde o tempo e o mar estão quentinhos, a comida é continental e (esperamos nós) não há pó.
Namaste
Filipa & Diogo
Nepal – onde dormir e o que fazer
Hotel Nepal
Kathmandu – Nepal Pavillion Inn
Nepal – formas de deslocação
Tuktuk e táxi com taxímetro (se não houver taxímetro é melhor combinar o preço antes de entrar no táxi).
Kathmandu – onde comer
- Fire and Ice
- Bhojan Griha
- Yangling Tibetan restaurant €€€
- Rosemary Kitchen and Coffee Shop €€€
- Kaiser Café
- OR2K €€€
- Le Sherpa
- Utse restaurant
Dicas e pontos de interesse em Kathmandu
- Swayambhunath
- Patan
- Pulchowk
- Kupondole