Mongólia

Abril 2016

Viva os mongoloides!!  🙂

Depois de dar os últimos recados, de fazer as últimas chamadas e enviar os últimos mails, entramos no avião da Lufthansa, rumo a Frankfurt.
Esfomeados, como sempre, ansiávamos pela comida que nos iam dar e qual foi o nosso desgosto ao ver uma sandes de peru ou uma sandes de queijo para escolher. Para não ser um “pecado” muito grande (vou fazer um esforço por só fazer asneiras quando não tiver outra hipótese ou simplesmente não resistir), lá escolhi a de peru. Quase chorei quando ao dar a primeira dentada sinto imediatamente o sabor de pepino!! ODEIO PEPINO!! Lá fiz o sacrifício de comer aquilo, com o estômago a roncar e com a cabeça no Sushi Passion que tinha visto ao lado da porta de embarque! Pode ser que no próximo voo nos deem alguma coisa melhorzinha…

O próximo voo será o nosso voo no maior avião que existe! Um A380!
O Di está emocionadíssimo (parece uma criança a mostrar-me os pormenores todos do avião e mostrar que sabe imenso sobre o assunto) e eu confesso que estou bastante curiosa!

Estamos a apanhar uma grande seca neste voo, onde não há entretenimento a bordo por ser um voo dentro da Europa. No entanto, 3h sem nada para fazer é esgotante! Na minha humilde opinião, de quem faz em média 25 voos por ano, voos com mais de 2h de duração deviam ter algum tipo de entretenimento! Uns jogos, uma TV para cada 10 passageiros, umas revistas, jornais… Sei lá! QUALQUER COISA! Estamos a divertir-nos com jogar à sardinha, cartas, jogos sobre países, capitais e bandeiras do mundo e a escrever este texto, enquanto bebericamos um Sprite!

Chegados a Frankfurt tivemos logo a desilusão de perceber que afinal não íamos voar no maior avião de sempre, mas sim na versão abaixo. O Diogo ficou logo triste e já nem quis tirar fotos ao avião.
Mas um azar nunca vem só! No lugar ao meu lado veio um italiano que só sabia falar alto, ocupava o lugar dele e o meu e estava sempre a tocar-me com os braços e as pernas. Começo a achar que tenho um sério problema com estranhos a tocarem-me… Fora isso, o voo foi pacífico e não custou muito.

Quando chegamos a Pequim, fomos logo trocar dinheiro e fomos logo “roubados”! Trocamos 40€ e deram-nos o equivalente a 27€!!! Mais de 30% de comissão! Um roubo!! Lá fomos nós almoçar, a sentirmo-nos traídos por estes chinocas bandidos!
Agora vamos para o nosso destino, Ulaan Baatar, onde nos vão esperar ao aeroporto para nos levarem para o parque natural mongoloide! Só espero não congelar até lá, com 2h30 de viagem num jipe!

Mongólia

Mongólia, um país montanhoso e cheio de neve! Pessoas simpáticas, sempre a sorrir, humildes e generosas.
Fomos recebidos pelo Bunga, o nosso tour guide que nos levou ao parque nacional e que pelo caminho nos foi explicando alguns dos costumes e way of life dos mongóis!

Paramos numa pequena montanha onde estava um micro templo budista para desejar boa sorte aos que vão passando. Então, percebemos que para usufruirmos dessa boa sorte, tínhamos de dar três voltas ao templo. Lá fomos nós, eu super aflita para fazer xixi, com uma ventania que cortava a respiração! Voltamos rápido para o jipe para seguir caminho. Daí a 20minutos estávamos na casa da família mongol que nos vai dar guarida por uma noite.
Imaginem um vale rodeado por montanhas castanhas cobertas de neve! Cães e vacas por todo o lado e nós, vestidos até ao pescoço, a saltar na neve, a fazer snow angels, a atirar neve um ao outro e o Diogo a fazer slide em cima de um lago congelado!

A família que nos deu guarida é super simpática mas não falam inglês! Isso significa – linguagem gestual! Esta noite vamos ficar num “ger”, uma tenda com estrutura em madeira, com recheio de peles, penas e panos, com uma salamandra no centro do quarto para nos aquecer de noite. Começamos por mostrar fotos e vídeos da nossa família e amigos e a senhora (a Anna) mostrou 2 álbuns da família e amigos deles. Ela mostrou-nos como eles cozinham e fez uma espécie de Pho (sopa vietnamita) com batata, abóbora, couve branca, cenoura, noodles, carne de vaca e um caldo de carne maravilhoso! Jantamos todos juntos e logo a seguir apareceu um dos filhos dela e um amigo que nos desencaminharam para um jogo de poker! Escusado será dizer que eu ganhei, claro!!

O chefe da família ofereceu-nos 2 estatuetas feitas por ele de cornos de vaca. São horríveis, no entanto têm muito valor porque não é fácil de alguém conseguir cá vir é muito menos ter uma igual!
Ele conhece o Cristiano Ronaldo, o Messi e o Neymar! Para ele, o Messi é o número 1 (fartou-se de o dizer), o Neymar é o número 2 é o Cristiano Ronaldo é o terceiro! Já nos rimos que chegue à conta deste senhor! O Diogo ainda conseguiu pô-lo a dizer para um vídeo “o Porto é o maior!” HAHAHAH!!!

Agora estamos a dormir num ger só para nós (que sorte!! Há mais 3 camas no nosso ger!) numas camas com colchões tão duros como pedra! Vamos ver como acordamos amanhã das costas!
Ah!! Aqui de noite está MUUUUIIIIITOOO FRIOOOOOO!!! Mas o céu é tão estrelado que quase apetece dormir lá fora… MENTIRA!! HAHAHAHAH!!! Quando passa vento (e passa várias vezes) é simplesmente insuportável!

Ulanbaatar aka Ulaan Bator

A noite foi passada de forma intermitente. Acordamos várias vezes com o frio e a única forma de controlar o frio era por mais lenha na salamandra. Para além do frio, os cães ladravam sempre que ouviam um barulhinho e eu acordei muitas vezes para fazer xixi. O problema é que para fazer xixi é um filme. A casa de banho é um casebre de madeira fora do ger, ou seja, sempre que é preciso fazer xixi, o rabo congela! Para não dizer outra coisa! Este casebre está dividido em duas partes, numa fazemos no buraco no chão, à caçador, noutra poderíamos fazer numa sanita, se esta não estivesse toda cagada!

Da primeira vez que tive vontade, ainda fui à sanita, mas de noite (frio para xuxu!) acabei por fazer lá fora a olhar para as estrelas, com os cães a ladrar por me estarem a ouvir. Fomos para a cama eram 8h30 da noite, porque o jantar por estes lado é servido às 18h e depois da jogatina de poker, não havia nada para fazer, principalmente porque eles não falam inglês.

A meio da noite acordámos com frio e o Diogo levantou-se para pôr mais lenha na salamandra e eu pensei que eram aí umas 6h da manhã. Perguntei-lhe e ele disse “são 23h!” Eu nem queria acreditar! Insónias de férias é do pior! Mas lá voltamos a adormecer, até acordarmos de novo com vontade de fazer xixi ou com frio. Lá foi a vez de eu fazer xixi mesmo à porta do ger para apanhar o mínimo de frio possível. Eu já nem bebi água para não ter vontade, mas o frio deve ser diurético!

De manhã, tomamos o pequeno almoço e fomos andar de cavalo! O pequeno almoço consistiu em pão, manteiga, compota, chá, leite e café. Bem bom, para ser num ger! Lá fomos andar de cavalo, logo a segui ao pequeno almoço. Bem, digo-vos que subir para o lombo do cavalo, não é tarefa fácil, principalmente porque temos vestido calças de ganga e a roupa da neve por cima, o que limita bastante os movimentos. Mas lá consegui a muito custo subir para o cavalo e começamos a andar!

Correu bem melhor do que a última vez que tinha andado a cavalo (em Petra, na Jordânia!). Dessa vez, o cavalo tinha uma porcaria de uma sela e desta vez, estes ricos cavalos estavam muito bem equipados. Lá fomos nós, umas vezes a passo outras vezes a trote. O problema é que o meu cavalo era bastante trapalhão e tropeçava, sendo que uma vez, eu pensei que íamos os dois ao chão! Coitadinho dele, até bateu de joelhos no chão duro! Mas foi espetacular e passei a adorar andar a cavalo! Ju, já mudei de ideias: podes querer andar, que já é fixe! Hahahahah!!! Brincadeirinha!

Quando chegamos ao ger, foi altura de almoçar (desta vez, arroz tipo risoto com os mesmos vegetais e carne, sem os noodles) arrumar tudo e vir embora. Despedimo-nos com muito afeto da Anna, a chefe de família daquele ger e viemos embora. De seguida, fomos visitar a estátua do grande guerreiro mongol Chiggis Kan (lê-se shijis can). Uma estátua enorme, em prata com uma espada de ouro na mão. Aqui, podemos experimentar a roupa típica mongol e nós assim o fizemos. Tiramos fotos e tudo! Foi muito fixe!! Subimos à cabeça do cavalo e depois fomos embora. Passamos por vários monumentos e parámos no rio congelado e estivemos a “brincar” um bom bocado!

Eles deixaram-nos na casa da família mongol que nos vai receber aqui em Ulaanbaatar. Um apartamento no centro da cidade, super confortável e com uma casa de banho top! Pelo menos é dentro de casa! Hahahahahah!!! Lanchamos com eles e depois fomos dar um passeio, mas depressa ficamos cansados, por causa do jet lag. Paramos num café para descansar e bebemos um caramel machiato (Diogo) e um smothie de iogurte (eu). Aproveitamos para pedir wi-fi e falar convosco.

A seguir fomos às compras e já compramos uns tecidos que eles usam cá para entregar nos templos e pedir desejos. Depois fomos ao supermercado para comprar coisas para comermos no comboio amanhã, tipo chocolates, rebuçados, batatas fritas e amendoins! Ainda estivemos para trazer álcool para nos divertirmos com o pessoal no comboio, mas a ressaca do dia seguinte ia-nos matar! O álcool ficou na prateleira! Mas ainda encontramos Mateus Rosé por 18€ – baratinho!

O jantar foi muito bom! dumplings de carne, borrego cozido, arroz delicioso, batatas e vegetais cozidos. Eles servem-nos imensa comida e para eles tiram só um bocadinho! Ficamos a abarrotar! Tomamos um banho delicioso e agora vamos para a cama.

Amanhã, às 6h30 já estamos a partir de comboio para Pequim, para seguir para Cebu, nas Filipinas.

Finalmente vou conhecer a minha terra!

Mongólia, perspetiva de uma breve passagem

A Mongólia era uma fantasia que tinha já há bastante tempo. Terra que outrora fora um dos maiores impérios do planeta e que se representava no meu imaginário como um terreno inóspito, de temperaturas extremas e pessoas simpáticas, apesar das adversidades. Foi exatamente isso que encontramos.

A Mongólia é um dos maiores países do planeta e tem apenas 3 milhões de habitantes sendo o país com menor densidade populacional do Mundo. Ulan Bator é a capital mais fria do Mundo e as temperaturas no inverno batem nos -45 graus (nós tivemos sorte e apanhamos apenas -16graus, 2 dias depois de sairmos iam estar -31).

Apesar disso eles têm as 4 estações do ano e no verão têm 3 meses de inferno com temperaturas de 35graus positivos. A primeira sensação que se tem ao chegar à Mongólia é que parece que se chegou a um congelador. Ir ao exterior é o mesmo que entrar num congelador. No entanto o congelador pode ser mais quente. A temperatura normal de um congelador é -18 graus e a temperatura média e sensação térmica no inverno é -30 graus!

Uma grande parte da população é nómada ou semi-nómada vivendo em gers, tendas de tecido e madeira com uma salamandra no centro que conseguem ser desmontadas em 30 minutos (é uma tenda complexa e não entendo como conseguem ainda…). A maior parte da população não nómada ou semi-nómada concentra-se nas grandes cidades. Os semi nómadas deslocam-se para as grandes cidades quando os filhos precisam de ir para a escola e montam o ger na periferia em autenticas favelas de gers e pequenas casas em madeira ao estilo soviético. Essas zonas são mais inseguras do que o resto do país, mas também dificilmente são visitadas por viajantes estrangeiros.

Qualquer pessoa que queira vir para a Mongólia tem direito, gratuitamente, a 1,7 hectares de terra à sua escolha e o que quiser comprar é realmente vendido a um preço muito barato.

Fica a sugestão para amantes da natureza que estejam a ficar loucos com o mundo ocidental e se queiram refugiar e viver de uma forma ancestral e isolada do mundo num ambiente hostil, meteorologicamente falando. Apenas a meteorologia e os polícias corruptos são hostis por aqui. As pessoas são o melhor deste país! São rodeadas de russos e chineses e mesmo assim de uma simpatia e um acolhimento surpreendente e incomparável.

Fomos recebidos em suas casas sempre com um sorriso e a darem-nos o que tinham de melhor. Às refeições comiam uma pequena porção para nos poderem dar uma porção normalmente o dobro da deles e com tudo o que de melhor tinham. Além disso não paravam de trazer coisas para a mesa.

As duas famílias que nos receberam deram-nos uma lembrança da Mongólia: primeiro deram-nos duas estatuetas feitas a partir de cornos de vaca com forma de peixe e a segunda família deu-nos um CD do filho que toca um instrumento tradicional mongol e que neste momento vive em Los Angeles onde dá espetáculos! Fizeram-nos sentir em casa e apesar de nenhuma das famílias falar inglês fizeram sempre um esforço enorme por comunicar o melhor que conseguiam e nos fazer sentir bem e parte deles.

A Mongólia ainda vive na sombra das glorias do passado longínquo, tal como nós portugueses, e do seu grande imperador e conquistador Chingis Kan. O homem era atroz e um verdadeiro sanguinário e ao nosso jeito também ninguém na população conhece o seu lado negro dizendo apenas que ele era glorioso, virtuoso, inteligente e corajoso. Vasco da Gama era igual…

Mas nós temos mais cromos nesta caderneta e não apenas um majestoso imperador gigante em prata a cavalo e com cara de mau no meio de um vale vazio. Falo da gigantesca estatua do Chingis Kan que é a maior do Mundo no seu género e poderia muito bem figurar num dos episódios do Senhor dos Anéis.

Começo a achar que os grandes líderes não têm defeitos e são todos virtuosos e detentores de qualidades e superpoderes: já li sobre isso na “dinastia” Kim da Coreia do Norte (em breve saberei mais!) Por falar em Senhor dos Anéis, a Mongólia me faz lembrar aquele povo que tinha os cavalos no segundo episódio.

As paisagens são iguais (montanhas, neve, tundra) e realmente isto é um paraíso para os nossos amigos equídeos. Por toda a paisagem se vêm inúmeros grupos de cavalos selvagens que vivem livremente. Também se vêm bastantes aves de rapina como abutres e águias reais, corvos, pegas (aves!), cães vadios de pelo comprido por todo o lado e camelos selvagens, sobretudo à medida que caminhamos para sul, junto ao deserto de Gobi. É com bastante frequência que se vêm esqueletos cães, vacas, camelos e cavalos recém comidos por abutres e corvos até ao tutano. O animal selvagem mais perigoso é o lobo, mas também existem raposas e leopardos das neves. O país tem 41 parques naturais.

Mas não é só de glorias que o país viveu. O século XX trouxe a boa nova do comunismo e este povo passou muito mal. Monges foram perseguidos e capturados até à morte. Estivemos numa caverna onde, reza a lenda, estiveram escondidos 1000 monges. Acho muito difícil de terem estado lá ao mesmo tempo. Aquilo tinha no máximo espaço para 100.

A herança soviética está muito presente na arquitetura, com os típicos edifícios do estado, as grandes avenidas ou os apartamentos agrestes onde enfiam as pessoas. Ulan Bator é igual a diversas cidades russas da atualidade, com a exceção da periferia que tem os exclusivos gers que lhe dão uma assinatura mongol. Já tem um centro da cidade com edifícios espelhados e nota-se bem a diferença entre os grupos sociais. Praticamente não existe classe média.

A poluição está bem presente e traduz-se numa nuvem castanha que paira sobre a cidade, em grande parte devido às grandes chaminés das estações geotérmicas e da combustão do carvão que aquecem a cidade durante o gélido inverno. Escrevem em alfabeto cirílico e algumas palavras são comuns embora o dialeto seja muito diferente e gutural. Resumidamente parecem uns fanhosos a falar mas nunca em nenhum dos países que visitamos até então ouvimos este tipo de dialeto e sons que emitem.

Adoramos visitar este país e recomendamos vivamente que o façam. É genuíno e acolhedor. Para quem gosta de caminhar e contactar com a natureza há diversas agencias locais que organizam visitas aos diversos parques do país durante 7 a 15d.

Nós tivemos exatamente aquilo que procurávamos: contacto com as famílias e dormir num ger. Neste preciso momento estamos a bordo do transiberiano, na porção mais bonita do trajeto (segundo dizem) de Ulan Bator até Pequim, atravessando o deserto de Gobi e o norte da China. É mais um sonho tornado realidade e as 26h de viagem vão ser um primeiro teste para ver se aguentamos a viagem de 7d de Moscovo até Vladivostok. Até breve, a internet não é frequente para estes lados.


Mongólia – dicas

Hotel Mongólia

Ficamos com uma família num gher nas montanhas e com uma família em Ulan Bataar.

Para saberes mais sobre nós, segue-nos:

Fica a par das nossas últimas aventuras

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