Kerala – Never trust a mosquito!
Chegados a Kerala, viemos diretos para as Backwaters, uns canais de água salgada, rodeados de vegetação, palmeiras, casas pequenas e vendas de frutas, legumes, peixes e marisco (camarões, lagostins e caranguejos). Tínhamos pedido a um dos nossos conhecidos, o Siddarth, que conhecemos na Tailândia, para nos pesquisar um House Boat para nós ficarmos. Achámos que ele conhecia melhor e sendo indiano conseguia desenrascar-se melhor do que nós e arranjar um preço justo pelo serviço que pretendíamos.
Para além de acharmos que íamos andar mais tranquilos, sem termos de marralhar preços, negociar horas, etc. Já nos apercebemos que, começando a negociar com um indiano, se formos para o seguinte, o anterior não deixa que o negócio seja feito, porque o cliente era dele. Ora bolas! Temos de ficar com o primeiro, mesmo que o preço não nos agrade? Era o que faltava! Este tipo de situações andam a dar cabo da minha paciência e estou a começar a ficar cheia de “discussões” e de não poder andar em paz, chegar a um sítio e usufruir do meu tempo e descanso.
Daí termos pedido ao Sidd para nos tratar de tudo. Está mal… Ele bem tentou, mas mais uma vez, fomos “enganados” (não pelo Sidd, mas pelo dono do barco que nos deram) e em vez de nos darem um barco conforme tinham mostrado ao Sidd, como eles próprios disseram “luxury house boat”, levaram-nos para um barco mais antigo, em que o quarto não tinha nada a ver com o da fotografia. Na foto era um quarto todo em madeira, com uma casa de banho porreira e não podia estar mais longe do que nós acabámos por ter.
Só nos deram uma toalha de banho (acharam que estávamos limpos e podíamos partilhar, só pode!), a cama não tinha lençóis, só o lençol de baixo e uma manta minúscula para nos taparmos caso tivéssemos frio (foi usada para nos escondermos dos mosquitos), a casa de banho estava tão suja, tão suja que as paredes estavam castanhas e logo mal chegámos ao quarto matámos cerca de 15 mosquitos seguidos! O “luxury” ficou em terra quando partimos neste barco, cheio de mosquitos, falhas e sujidade, com indianos que falam mal inglês.
Só quando nos afastamos da costa e saímos do meio de todos os barcos é que começamos a ter a noção real de quão mau era o barco… Na costa estava mais escuro e nem conseguimos ver o barco direito do lado de fora. Mais uma vez, chegámos à conclusão que temos de fazer nós as coisas. Porém, também temos noção que íamos perder imenso tempo a negociar, a tentar encontrar a melhor opção e íamos andar desconfortáveis e a “discutir” com indianos que acabam por ser mais persistentes do que nós…
Antes da hora de almoço levaram-nos a uma vila de venda de peixes e marisco para ver se ficavam com o nosso dinheiro e lá trouxemos 11 camarões tigres para comer ao almoço, por 1.000 rupias (12€), junto com o peixe que já estava incluído no pacote.
O almoço foi servido perto de um enorme lago. Peixe frito, um peixe pequenino para cada um (imaginem se não tivéssemos comprado os camarões… passávamos fome), que tinha mais espinhas do que carne, uma panela gigante de arroz (dava para no mínimo para 6 pessoas), um caldo de batata doce com legumes e caril (super picante), uns vegetais bastante bons que ainda não consegui decifrar o que eram, beterraba cortada muito fininha com pimenta, outra mistura de vegetais com chili verde (supostamente o chili verde não é picante… só que é!), um molho de iogurte e camarões? Nem vê-los!! Apesar de não terem frigorífico, nem arca, nem gelo de qualquer espécie, iam manter os camarões, dentro do saco ao sol até à hora de jantar.
Oh pá… isto não é normal! Quase que nos passámos com eles… Pedimos para fazerem os camarões para a hora de almoço e eles lá trouxeram 6 camarões, 3 para cada um de nós, a acharem que era imensa comida. Os outros 5 eram para a hora de jantar. Lá lhes voltámos a explicar que não, que queríamos os camarões todos agora, porque iam se estragar até ao jantar e eles ficaram muito espantados com a quantidade de proteína que nós queríamos comer. De facto, já estávamos a abarrotar de comida, mas antes faça mal do que…….. faça mal MESMO mais tarde! À noite já estaria estragado e íamos ficar com o resto das férias estragadas. Lá se iam as Andaman e o mergulho tão promissor!
Lá nos fizeram os camarões todos, conforme nós pedimos, fritos com alho, gengibre e sal. Mesmo dando-lhe s a receita, não acertaram. Não puseram sal, encheram aquilo de gengibre e o alho era pouco… Desistimos e seguimos caminho para o sítio onde íamos ficar a dormir. Por volta das 17h00, começam a aparecer as nuvens avassaladoras de mosquitos! Parece que nascem e que quando matamos um, parecem mais 5! São “mais que as mães” e tentam pousar no nosso corpo, da forma mais inteligente possível… não atacam de frente, atacam de lado, vindo por trás e tentam pousar em sítios onde nós não os vemos. Os sítios preferidos deles são os calcanhares, cotovelos e joelhos.
Decidimos meter-nos no quarto, a matar os mosquitos que entretanto decidiram entrar, não sabemos por onde. Agarrados aos jogos dos nossos telemóveis, a jogarmos jogos de capitais, bandeiras, perguntas de cultura geral, etc acabámos por adormecer às 21h00, cobertos pelo único cobertor que nos deram, que quase não tapava a pernas todas, a dividir pelos dois. O colchão parecia pedra, a almofada… calhau! Mas inacreditavelmente, até dormimos relativamente bem (against all odds!), sem mordidas de mosquitos.
Kochi
Acordámos às 7h00 da manhã, com o som dos homens a falar, as máquinas do barco a trabalhar e os corvos a palrar. Tinham-nos dito que às 8h00 nos serviam o pequeno-almoço, previamente escolhido por nós (torradas, manteiga, compota, leite frio para mim e café com leite frio para o Diogo). Só tivemos coragem de sair do quarto exatamente à hora marcada para comer, com medo dos mosquitos. Ainda havia alguns resistentes e nós lá os fomos matando, um a um com o que estava mais à mão. Lá tomamos o pequeno almoço “luxury”, servido numa mesa suja e sentados em cadeiras meias soltas.
O pão estava surpreendentemente bom, a manteiga um pouco derretido demais, mas excelente, a compota parecia remédio para a tosse (but what the hell…”) e as nossas bebidas vieram a escaldar. Parece que não ouvem. Quer dizer, eles ouvem, mas como é um serviço “luxury”, não fixam, não escrevem, não querem saber e qualquer coisa basta, é melhor do que nada. Pagámos um serviço deluxe mas tivemos um básico abaixo da média.
De todos os hotéis até agora, este foi o pior de todos com toda a certeza! E foi exatamente isso que fizemos questão de dizer ao dono e ao motorista quando nos vieram buscar. Explicámos que quando se paga um tipo de serviço, está-se à espera de ter o que se paga e que queríamos que o feedback que estávamos a dar, fosse encarado como uma crítica da qual eles pudessem melhorar o serviço. Ele começou a dizer que não tínhamos pago luxury, mas sim deluxe! Até me ri na cara dele. Então luxury e deluxe não são sinónimos? Querem enganar quem? E mesmo que seja deluxe, não temos direito a duas toalhas, lençóis e um quarto e casa de banho limpos? Na minha terra, até no hotel mais básico nos dão isso.
O motorista lá nos devolveu quase metade do dinheiro do barco, mas não era isso que queríamos, dissemos nós! Queremos é que este monhés duma figa aprendam que andar a enganar turistas não os leva a lado nenhum e que assim o país não evolui. Ele lá insistiu e disse que não se sentia bem se fosse de outra forma. Nós aceitámos a mudámos de conversa a caminho de Kochi para ver se o “grande elefante” que estava sentado entre nós desaparecia! Estava um ambiente de cortar à faca e lá fomos perguntando curiosidades sobre aquela região e ele lá nos foi respondendo.
O dia correu bastante melhor do que o anterior e visitámos uma igreja onde o Vasco da Gama foi sepultado quando morreu, sendo depois transladado para Portugal. Aqui na igreja fomos abordados por uns miúdos (com cerca de 13 anos) que nos perguntaram de onde éramos e quando dissemos Portugal, lançam logo o clássico “Cristiano Ronaldo!”.
Nós a brincar, dissemos que éramos amigos dele e que passávamos férias com ele e só ouvíamos “WOW!” de olhos esbugalhados e de sorrisos abertos. Eu ainda disse que ele tinha uma casa de férias no norte de Portugal com um heliporto no telhado e eles acreditaram mesmo que nós o conhecíamos bem. Disseram que eram os maiores fãs e eu disse que lhe íamos dizer e que ele ia ficar muito feliz por saber. Ficaram todos convencidos e orgulhosos por terem conhecido alguém que conhecia o grande ídolo deles. Coitaditos dos putos! Mas pelos menos saíram felizes da vida daquela igreja, aposto até que com o dia ganho!
Lá passeámos pelas ruas de Kochi, vimos o mercado de especiarias, uma sinagoga, almoçamos num restaurante bastante bom (onde deu para falar convosco e responder a alguns mails mais importantes), mais uma vez referido pelo Zomato, fomos até à praia (cheia de lixo), vimos uma placa escrita em português, que tinha sido colocada em honra à visita do Mário Soares, nosso presidente em 1992, visitamos um hotel super antigo e tradicionalmente português com um mercedes SE clássico lindo de morrer à porta e de seguida fomos ver um espetáculo de lutas indianas e o tão famoso Katakali, onde os atores passam 1h00 a maquilharem-se e depois é uma espécie de teatro onde abundam as expressões corporais, gestos, sons e música. Foi um espetáculo cheia de vida, cor e emocionante. Tirámos imensas fotos e fizemos vídeos para vos mostrar.
Quando saímos (19h30) fomos jantar a um restaurante português onde eu comi “prawn alhinho”, o clássico camarão com alho, com um twist de coentros (que eu amo!)! Estava uma delícia e o arroz de coco e coentros não lhe ficava nada atrás! Estava de babar!
Daí a umas horas (às 2h00 da manhã) tínhamos de estar no aeroporto e decidimos terminar a sessão e ir dormir a um quarto que arranjámos durante a tarde durante as poucas horas que nos restavam por 6€.