Ilhas Salomão

Abril 2017

A viagem de Kavieng até Honiara correu sobre rodas, com um pequeno percalço de um atraso de quase 30 minutos em Kavieng, que nos fez pensar que não íamos conseguir apanhar o voo para Honiara. Para variar, por estes lados, ninguém faz o seu trabalho eficientemente, isto é, quando estão a trabalhar! Porque a maior parte das vezes, estão sentados a descansar, de pernas abertas, relaxados, para trás, ou com a cabeça pousada nos braços cruzados em cima da mesa, a tirar um cochilinho bom. Quando perguntamos alguma coisa, levantam-se e vão chamar alguém para nos responder porque eles estão a descansar! Não se entende! Têm o trabalho de se levantarem para chamar outra pessoa, mas não para nos responder… vai-se lá entender!

Quando estávamos na fila do check-in, a luz foi abaixo. Bem, foi o caos! Ninguém sabia o que fazer, demoraram imenso tempo até conseguirem ligar o gerador e pareciam burros a olhar para um palácio…

Quando a luz voltou, ninguém sabia como ligar um computador e tiveram de chamar o fulano que normalmente põe as malas dentro do avião para conseguirem prosseguir com o trabalho dito normal. Como não conseguiram ligar o computador (valha-me cristo!), começaram a emitir os bilhetes à mão! Sim, à mão!! E como estavam com um atraso de mais de 30 minutos, em vez de se despacharem, não, escreviam tudo muito devagar, com letra desenhada… eu já estava a arrancar cabelos! Já só me apetecia arrancar-lhe a caneta da mão e começar a escrever eu. Isso ou carregar no botão que diz power no computador! Nossa!!!

Mas lá conseguimos embarcar, a muito custo, e conseguiram recuperar o tempo perdido durante a viagem e chegamos a tempo a Rabaul, para uma rápida escala, onde nem saímos do avião. De Rabaul, fomos diretos até Port Moresby, sem fazermos as escalas que tínhamos feito à chegada (em Lae e em Kimbe), para partir para Honiara. Tudo a correr conforme planeado. Em Port Moresby ainda tivemos tempo de comer um pequeno almoço muito rápido, para entrarmos no avião com a equipa de futebol das Salomão. Tinham vindo jogar e ganharam, por isso vinham todos bem dispostos, felizes, a festejar e mostrar as fotos deles no jornal local. Pareciam crianças!

Deixamos a Papua com a sensação de que vamos voltar um dia. Olhamos para baixo e deixamos um “bye bye, see you soon!”

Vista de cima, a Papua tem uma vegetação super densa, sendo raro ver-se chão, casas ou estradas, apenas árvores e palmeiras num território montanhoso, com penhascos e falésias. Nem imagino o que andará por ali à solta… além de canibais carniceiros!

O tempo nas Salomão não estava tão bom como na PNG, o que nos fez recear que a avioneta para Seghe pudesse ser cancelada. Meu dito, meu feito! 30 minutos antes da hora do voo, vieram dizer-nos que o voo tinha sido cancelado por uma avaria técnica que tinha acontecido à hora de almoço e que não tinham conseguido consertar a tempo e agora era demasiado tarde para irmos porque a pista de Seghe não tinha iluminação e não conseguiriam aterrar de noite. Que cocó!!! Tivemos de aceitar, depois de insistir para nos arranjarem outro voo rápido antes que fosse noite, mas empataram tanto que foi impossível.

Puseram-nos no hotel King Solomon, um dos melhores de Honiara, mas que deixa muito a desejar em termos de acabamentos. Por outro lado, não há melhor e nem eles sabem fazer diferente. Um hotel em madeira, com um lobby gigante, uma receção grande, só fogo de vista, pois estava cheio de mosquitos. Tinha um bar tipicamente americano, um restaurante (com comida muito boa, comemos uma pizza hawaiana M A R A V I L H O S A ! E uma travessa de sapateira, lagostas, peixe e lulas! Tudo pago pela Air Solomon!!) e um “cable car” como o elevador do Bom Jesus.

Os quartos enormes com chão em tijoleira (que já baixa logo a qualidade e o conforto), uma casa de banho já com aspeto velho e usado, com ferrugem na base de duche, um minibar e uma zona para pousar as roupas. O aspeto geral era velho e usado, chegando a parecer sujo sem realmente estar. Fomos tentar aceder à net (para conseguirmos falar convosco depois de muito tempo sem darmos notícias) e comer o delicioso jantar gentilmente oferecido pela Air Solomons. De barriga cheia, quase a rebolar de tanta comida, fomos tentar saber como se alugava um carro em Honiara para quando voltássemos da Maroovo Lagoon. Para variar, estava uma rapariga por trás do balcão, com a cabeça confortavelmente pousada nos braços cruzados em cima da mesa, e quando pedimos ajuda, ela foi chamar um colega para nos ajudar… não se entende o sistema. Se fosse comigo! O fulano lá nos deu um cartão com o número de uma companhia e fomos dormir.

O toque do despertador às 4h30 da manhã soou como uma grande badalada de um sino e um choque elétrico fez-me dar um salto na cama. Sem saber onde estava, nem que horas eram, nem que raio se estava a passar, levantei a cabeça e olhei à minha volta numa tentativa falhada de entender o que me rodeava e de acordar. Falhada… totalmente falhada! O Diogo adiou o despertador e aqueles 10 minutos seguintes souberam-nos a paraíso. Mas o tem de ser tem muita força, mais força que o sono e a preguiça e lá nos levantámos, com o corpo pesado e chumbo nas pálpebras! Arranjamos tudo e descemos, ainda como zombies. Depois de uma breve conversa convosco, partimos para o aeroporto, ainda na incerteza se iríamos mesmo para Seghe ou não.

Seghe, Salomão

Chegámos ao aeroporto ainda de noite, com o avião à nossa espera. YUPY!!! Vamos para Seghe!!! Fizemos o check in e passamos para a porta de embarque.

Ao vermos a avioneta, começamos a ver que ao lado do motor estavam umas manchas negras, claramente vindas de um fogo qualquer. Perguntamos se estava tudo ok com a avioneta e disseram-nos que o engenheiro ia agora fazer a inspeção. COMO ASSIM?? Tiveram este tempo todo para arranjar a porra da avioneta e só agora, connosco na porta de embarque e já com as malas lá dentro é que se lembram disto? Clássico! Com a cabeça colada aos vidros da porta de embarque, eu e o Diogo e mais 4 pessoas que iam connosco no voo, tentávamos perceber se faziam um bom trabalho e se seria seguro ir. Vimos o dito engenheiro a inspecionar os 2 motores mas só víamos uma das hélices a trabalhar… GRANDE MERDA! Ainda vamos ficar em terra mais um dia… ainda só com uma hélice a trabalhar disseram-nos para entrar na avioneta e digo-vos com toda a certeza que estávamos todos assustados. Com os olhos postos na hélice parada e sem proferirmos um único som, entramos na minúscula avioneta e sentamo-nos nos nossos respetivos lugares. Quando a hélice estática começou a rodar, até as nossas alminhas brilharam!

O piloto veio dizer que estava tudo ok e que íamos partir dentro de momentos ao que a seguir explicou todas as tretas do costume, de como apertar o cinto, os procedimentos em caso de emergência, etc. Confesso que mesmo assim, ainda estava pouco segura e confiante que estava mesmo tudo bem. Mas na verdade, tudo correu bem, sem sustos nem solavancos. A vista foi magnífica, que acabou por distrair o povo da situação em causa. Fizemos vídeos e tiramos as devidas fotos para vos mostrar.

A aterragem deve ter sido uma das mais bonitas que já vimos. Com a pista a começar mesmo em cima da água, numa perpendicular à mesma, parecia que íamos aterrar em cima da água cristalina, cheia de coral, e à nossa frente, pela janela dos pilotos, só se viam palmeiras e árvores! L I N D O !!! Escusado será dizer que o “aeroporto” de Seghe era minúsculo… uma cabana, com ripas de madeira colocadas na vertical, pintadas de azul com linhas brancas na mesma posição, com um telhado de duas águas em chapa de zinco, onde por baixo dizia “Welcome to Seghe”. Num sinal em madeira colocado à frente da tal cabaninha (leia-se aeroporto) lia-se “SEGHE AIRPORT”! Top!! Mas atenção, bem melhor e bem maior do que o de Malekula em Vanuatu! BEM MELHOR!!

As pessoas vinham esperar os familiares, amigos e hóspedes à porta da avioneta, todos no meio da pista, onde iam sendo colocadas todas as malas. Nem foi preciso passar pela cabana. Os fulanos do hotel, que nos tinham vindo buscar, pegaram nas nossas malas e levaram-nas diretamente para o banana boat. O tempo não estava muito famoso e ficámos convencidos que ia chover e se assim fosse íamos ficar todos molhados, o que com o vento provocado pelo barco, poderia ser bastante desagradável… e assim foi, no banana boat, que não tem cobertura, começou a chover e num instante ficámos encharcados. O que vale é que o vento é quente, mesmo sendo provocado pela deslocação do barco. Eles ainda me emprestaram o casaco deles, uma gabardine tipicamente de pescadores, e cheia de estilo, lá fomos nós. Eu devo andar meia doente, porque adormeci no barco! Sim, eu, euzinha, a dormir num barco, com ondulação… não sei como é que isso aconteceu! Eu que nunca consigo dormir em lado nenhum, nem em carros, aviões, comboios… a dormir num barco! Top! Eu acho que foi o stress do voo.

Depois de 1h45 chegamos ao Wilderness Lodge. Uma casa gerida por locais, em cima da praia, rodeada por palmeiras, catatuas, papagaios, com um pontão sobre a água cristalina de uma lagoa cercada por recife e pelo Pacífico. No nosso quarto temos 2 camas, com rede mosquiteira, sendo que uma delas é beliche. A casa de banho é na porta ao lado e só temos de partilhar este paraíso com uma hawaiana e o filho que vão embora amanhã. Na segunda chegam mais 2 pessoas e nós partimos na quarta à tarde. Por baixo do pontão vemos coral com nemos e um cardume enorme de peixes! Maravilha!!!

Ansiosos que a chuva passasse, fomos pousar as malas e tomar o pequeno almoço, que as senhoras gentilmente preparam para nós: uma omelete enorme, mal passada (para nosso agrado) e torradas, leite, café e chá. O que é que podíamos pedir mais? Uma massagem de 1h00 a 10€? Sim, pode ser! Venham duas! Marcamos para sábado a seguir ao pequeno almoço. Isto é MESMO o paraíso! Só não parou de chover a tempo de conseguirmos explorar o recife. Conversamos com a Bridget (não a Jones, mas sim a Burger!) e com o Tenzen (o filho de 10 anos, completamente na idade da parvalheira e com o típico sotaque americano que até tem a sua piada) sobre a atualidade e sobre as nossas vidas (na vida real). O Diogo jogou Super Mário com o miúdo, jantamos e fomos dormir. Dormi como uma pedra! Tão pesado que no dia seguinte acordei com dores de cabeça.

Com a cabeça pesada, acordei para nos despedirmos da Bridget e do Tenzen que partiam as 7h00 rumo ao Hawaii. A seguir tomamos o pequeno almoço igual ao de ontem, mas com uma omelete diferente e fomos fazer snorkel na canoa do hotel. Vimos um Pufferfish GIGANTE, a quem carinhosamente batizamos de Pufas. Os nemos são simpáticos e são 4 os membros desta família, situados mesmo à entrada no mar. É muito raro ver nemos tão na superfície. Quando o guia de mergulho chegou, falou-nos dos vários dive spots aqui perto e sobre o que poderíamos encontrar apenas disse “we will see what we can see”. Nada é garantido.

Fomos então de barco até o primeiro sítio de mergulho. Mal entramos na água, ao olhar para baixo, vemos uma quantidade enorme de coral e peixes mesmo por baixo dos nossos pés. Toca a descer! Com a botija às costas, presa ao colete, a pressionar o botão para esvaziar o colete de oxigénio com a mão esquerda e com as bolhas a sair pelo mesmo botão, começamos a descida através de patamares e patamares de corais das mais variadas formas, cores e tamanhos, com centenas de peixes coloridos à nossa volta. Amanhã vamos fazer um vídeo destas nossas descidas para vocês poderem ver como é maravilhoso o mundo subaquático. Estamos a notar que aqui, os corais à superfície parecem ser mais variados e coloridos do que a grandes profundidades, onde se veem mais corais em leques onde costumam estar os cavalos marinhos pigmeus (uns lindos cavalos marinhos cor de rosa quase microscópicos). Neste mergulho vimos 3 tartarugas e muitos nudibranches de vários tamanhos, cores e feitios. Saímos da água ligeiramente desiludidos.

Estava na hora de voltarmos ao hotel para almoçarmos. O próximo mergulho ia ser feito às 14h30. Um de manhã, outro de tarde. A seguir ao almoço, abateu-se uma moleza por estes lados, daquelas que só nos dá vontade de esquecer o mundo, fechar os olhos durante 5 minutinhos só (que acabam por ser 2h00), mas que sabe maravilhosamente bem e que nos faz lembrar que estamos de férias e que por isso podemos.

Acordamos para o segundo mergulho, ao lado de uma lagoa de água cristalina, tipo piscina, numa vila de outra ilha vizinha. Fomos recebidos dentro de água por um tubarão de pontas brancas e outro de pontas pretas que andavam a caçar juntos. Só este início já fez todo o mergulho valer a pena. Muito tranquilamente, o pontas brancas veio até invulgarmente perto, ver o que nós éramos e o que estávamos a fazer, claramente pouco habituado a ver humanos na casa dele. Lá seguiu a vidinha dele e continuou a caçar. Neste mergulho vimos muitos tubarões, barracudas, nemos, nudibranches e coral muito bonito, principalmente mais perto da superfície. Vimos também um camarão verde claro a limpar a casa de areias maiores, deixando um caminho mais limpo em direção à sua toca feita na areia. Um castiço!

Os mergulhos aqui continuam a durar mais de 60 minutos, o que é ótimo porque ninguém nos pressiona para subir, desde que haja oxigénio, claro! Voltamos para o hotel, onde descobrimos que a partir das 17h30 de sexta até às 17h30 de sábado ninguém trabalha nesta ilha. Ou seja, amanhã não há mergulho para ninguém. Pusemos uma musiquinha à maneira, dançamos um bocadinho, num hotel inteiro exclusivamente só para nós os dois, bebemos lime juice com mel (que é ótimo!) e mandamos algumas fotos para vocês. Rapidamente chegou a hora de jantar, com uma vista fabulosa para o Pacífico e o recife e com um manjar de reis à nossa disposição. Pernas de galinha, salsichas grelhadas, banana com leite de coco e inhame fritas tipo pataniscas, salada de legumes e ananás com molho agridoce, arroz e espetadinhas de peixe branco com pimentos verdes e cebola com molho de coco super picante. Já me sentia com o estômago prestes a rebentar quando me põem a sobremesa à frente: duas bananas fritas envoltas numa farinha crocante adocicada! Sem sequer fazer um esforço para resistir, saboreei cada cm daquelas bananinhas crocantes deliciosas! Cheia de dores de estômago por ter comido demais, viemos para a cama, dormir e sonhar com as massagens que nos vão fazer amanhã. Estou a pensar seriamente em trocar os mergulhos por massagens, caso amanhã corra bem e fique bem relaxada. Se trocar, faço 2 massagens por dia e ainda fica mais barato do que os mergulhos! A ver…

O sabat! O dia em que nenhum adventista (a religião mais praticada aqui na ilha) pode fazer o que quer que seja. O que significa que nós também não… Não há mergulho para ninguém, não há barcos, canoas, ninguém cozinha, ficam em casa, dão pequenos (!) passeios, conversam e leem. É dia para introspeção e reza, pensar nos pecados e às 17h00 ir à missa confessá-los.

No entanto, a nossa cozinheira não é adventista e por isso tivemos direito a pequeno almoço, às nossas massagens, sandes ao almoço, lanche e ao jantar já tinha terminado o sabat, que dura do pôr do sol de sexta até ao pôr do sol de sábado. Tivemos direito a massa à bolonhesa, filetes de peixe panados fritos e uns legumes. De sobremesa? Saladinha de fruta boa! O dia, apesar de não haver grande coisa para fazer foi passado bastante bem. De manhã fizemos a massagem de 1h cada um, a seguir fomos fazer snorkeling em frente ao lodge e só saímos da água quando o estômago já roncava de fome, afinal já era meio-dia!

Fiquei bastante espantada com a qualidade do snorkel aqui em frente! Até peixes navalhas vimos – uns peixes muito raros em forma de navalha, que nadam de cabeça para baixo – peixes picasso, peixes papagaio, uns peixinhos azuis muito riquinhos, peixes morcego que nos fazem companhia durante o mergulho aproximando-se bastante de nós porque estão à espera de comida, e uma série de peixes que nem o nome sabemos. O Pufas continuava debaixo do pontão escondido e quando o fui filmar, acho que lhe preguei um susto de morte, porque fugiu e nunca mais o vimos. Tadinho! Volta Pufas… não foi por mal. Está também um cardume enorme de peixes do lado esquerdo do pontão e passam os dias ali, parados, a olhar para ontem. Não saem daquele sítio o dia todo! Bem, dizem que os peixes têm memória de 3 segundos, por isso deve ser um êxtase! Fizemos vários vídeos nossos a fazer snorkel, inclusive dos peixes navalha. A massagem foi ótima! Só foi pena ela só massajar a parte de trás do corpo. A parte da frente ficou muito invejosa… mas o que foi massajado foi bem apertado e a carne bem amaciada! Acho que vou querer repetir, talvez no último dia, para ir bem relaxada.

A seguir ao almoço, fomos fazer uma caminhada depois de uma boa sesta. Caminhamos até ao fim da lagoa, através das várias vilas minúsculas que iam aparecendo, entre palmeiras, papagaios, catatuas, flores estranhas e plantas tropicais que delimitam o caminho e os terrenos das “casas” dos habitantes da ilha. Estas casas estão todas assentes em paus e levantadas do chão. São muito castiças e bem arranjadas, com ripas de madeira que na ponta são arredondadas, dando-lhe um aspeto de casa da barbie tropical.

Todos são extremamente simpáticos, cumprimentam sempre, querem tirar fotos, dão “high fives” e sorriem muito. Quando chegamos ao fim da lagoa, começamos a ver búzios por todo o lado e eu, para não variar, pego num para trazer de souvenir, mas o fulano está preso às rochas… aaaahhhh!!!! São tipo lapas! Oh! Que chatice! Petisco para o jantar! Começamos a apanhar os búzios todos que conseguíamos, deixando só os mais pequenos para a continuação da espécie. Que maravilha… Apanhámos muitos e quando voltamos ao lodge, já o sol se tinha posto, pedimos à cozinheira para os preparar para nós. Ela assentiu e levou-os. Quando os trouxe para a mesa, estavam reduzidos a meia dúzia… encolheram, perderam a concha e nem o buraco dum dente tapavam. Mas eram ótimos! Isto com sal, limão e uma boa mão de coentros é que ficava top! Lapas à bolhão pato… até me babo!

Mas a melhor parte do dia ainda estava por acontecer! Com o cair da noite, como devem calcular, veio a escuridão. E quando digo escuridão, digo tão escuro que não se vê um palmo à frente do nariz. Quando ainda víamos alguma coisa, vimos morcegos do tamanho de gatos a sobrevoar os céus, à procura de palmeiras com frutos para se alimentarem (esta espécie só come fruta). Entretanto, para os vermos melhor, fomos para o fim do pontão. Como estava bom tempo, elas puseram a mesa cá fora e esperava-nos um jantar à luz das velas. Que romântico!

De repente, vemos a barbatana de um tubarão de pontas pretas fora da água! Caramba, como quem leva um choque, deitamo-nos no pontão, com a luz das lanternas do telemóvel a apontar para a água para podermos ver o tubarão a caçar. Ele nadava para a frente e para trás, mas em nenhuma altura se fazia aos peixes que andavam mesmo ali ao lado dele. Mas nunca poderíamos esperar pelo que vimos a seguir. Como magia, que no início quase parecia ser uma alucinação, começamos a ver uns riscos compridos à superfície da água e o que pareciam ser peixes agulha, acabou por ser plâncton fluorescente! Começamos a olhar à nossa volta e vimos o mar cheio de luzes que ora piscavam aqui, ora piscavam ali! Apontávamos a lanterna e não víamos nada! Um mar normal. Só quando virávamos as luzes para o nosso corpo, retirando a luz do ambiente, é que se viam umas luzes aqui e ali… tentamos filmar, mas não havia luz suficiente. QUE PENA! A sério! Queríamos tanto poder partilhar convosco este momento tão especial e mágico…

Com o passar do tempo sem luz, os olhos foram se habituando à escuridão e começamos a ver cada vez mais e melhor! Conseguimos ver que animal é que fazia este fenómeno – um peixe comprido, fininho e minúsculo, quase microscópico, que ao se deslocar deixava um rasto de luz. Ficamos sem perceber se era com a deslocação ou se era quando fazia cocó! Vamos embelezar a coisa, ok? Era com a deslocação, combinado? Faziam belos desenhos e acrobacias de natação, deixando rastos magníficos que só uma fada com uma varinha de condão poderia ser capaz de fazer! Com uma lagoa iluminada e a piscar como background, tivemos o nosso romântico jantar. Fomos banidos por uma trovoada longínqua que em poucos segundos se tornou numa chuveirada pesada nas nossas cabeças e que trouxe para dentro do lodge uma aranha “acaranguejada” que ficou no limite do telhado só mesmo para se abrigar, 2 caranguejos enormes da terra (e não do mar) para a casa de banho e acabou com todas as moscas e mosquitos! Foi a minha deixa para vir dormir, protegida pela rede mosquiteira!

A verdade é que ando a dormir 12h00 por dia, 10h à noite +2h no fim de almoço. No entanto, não me falha o sono quando chega a hora de dormir! Aqui janta-se muito cedo, às 18h30 já estão a pôr a mesa e especialmente hoje, que éramos nós os responsáveis pelo churrasquinho maneiro, já estávamos a jantar às 18h30. Por isso, às 20h00/20h30 normalmente já estamos na cama. Sem hora para acordar e sem cortinas nas janelas que nem fecham, estamos a abrir o olhito por volta das 7h00 da manhã, para tomar o pequeno almoço que está na mesa às 7h30.

Às 8h00 já estamos a entrar no barco para ir mergulhar. Hard life! Hoje o primeiro mergulho foi em Bulo, o sítio que de acordo com o Stewie, o nosso guia, é o melhor. Atravessámos um mar alto, com ondas enormes que fazem o barco dar saltos que quase nos fazem voar do assento. A costa da ilha, onde fomos fazer o mergulho, é uma falésia abrupta, onde as ondas batem de tal forma que mais parecem explosões de bombas que lançam água a muitos metros de altitude, criando rachadelas nas rochas íngremes que suportam as palmeiras lá em cima. Aqui pairam águias de cabeça branca, que parecem saídas dum filme de índios. De repente, ouço o Stewie a dar berros para o ar e pensei automaticamente em golfinhos e eram mesmo! Tantos a saltar à frente do barco, ao lado, mais afastados… são escuros e nadam super rápido! Sem nenhum aviso, o barco para e estava na hora do mergulho. Mesmo ali ao lado dos golfinhos! Estava à espera de os ver de baixo de água e acho que nunca me equipei tão rápido para poder entrar na água asap! Pus o cinto com os pesos, limpei a máscara, abri o oxigénio, vesti o colete, calcei as barbatanas, apertei o colete, coloquei a máscara, pus o bocal do oxigénio na boca, dei um check a tudo e atirei-me de costas para a água! Olhei a toda a volta e nada… já não estavam lá! Que treta!

Esperei pelo Diogo e o Stewie e quando eles entraram, começámos a descer, libertando o ar do colete. O fundo estava logo ali, a uns 12 metros, plano, e num instante chegamos ao fundo. Não tinha coral, só rochas. Estava uma corrente bastante forte e tirei o gancho para fora para quando chegássemos ao sítio me prender a algum lado. Quando olho para o lado esquerdo para ir ao bolso buscar o gancho, vejo 3 tubarões cinzentos, E N O R M E S e gordos, a vir na nossa direção, com muita calma, como quem está a passear. Chamei o Diogo com o meu tubo de inox a bater na garrafa, imitindo um som metálico que se espalha debaixo de água muito bem. O Diogo olha e eu aponto. Até os olhinhos lhe brilharam! Sem sabermos como, vimo-nos no meio de tubarões cinzentos, barracudas e montes de peixes! Normalmente, em sítios com muita corrente, temos sempre muita ação! Os peixes gostam de corrente porque lhes traz comida, limpa-lhes as guelras e onde há muitos peixes, há tubarões e é isso que nós queremos e gostamos. Com os cinzentos a patrulhar a água e com as barracudas a rodear-nos, tivemos um dos melhores mergulhos de sempre.

As barracudas chegavam-se mesmo muito perto e ficavam a olhar para nós, com um ar de desconfiadas e os tubarões pareciam querer saber o que nós éramos. “Que coisa estranha é isto?”, conseguia-se ler na expressão das barracudas, que cada vez se chegavam mais perto. Acreditamos que possam não estar habituadas a ver humanos, visto que não costuma haver muita gente por estes lados. Prendemos os ganchos ao coral, para podermos estar quietos e ver o filme de ação que se desenrolava à nossa volta. Mas tivemos alguma dificuldade, visto estar bastante corrente que nos fazia mudar de direção, quer para os lados, quer para cima e para baixo. O gancho acabava por se soltar, não ficando preso durante 30 segundos sequer! Depois de uns bons 5 minutos a tentar prender, já com o Stewie a ajudar-me, o Diogo passa-me o gancho dele, que já estava preso. Mal o seguro na mão, vem uma corrente e tira-me o gancho… porra pá! O Stewie lá conseguiu prender e desta vez ficou até ao fim. Vi o Diogo a desistir de prender o dele, ficando à mercê da corrente, mas a conseguir estabilizar a flutuação e a fazer vídeos excelentes.

Houveram alturas em que nem sabíamos para onde nos virar… eram tantos à nossa volta que qualquer ângulo para onde virássemos a câmara, dava um bom vídeo! Cheguei a contar 5 cinzentos ao mesmo tempo, mais a nuvem densa de barracudas que ora se aproximava de nós, ora se mantinha na penumbra. Num ambiente excelente para a National Geographic Channel fazer um documentário, tivemos de abandonar o cenário para subir por falta de oxigénio.

Fizemos a paragem de segurança, como em todos os mergulhos, 3 minutos aos 5 metros de profundidade e subimos para o barco num êxtase total! Com sorrisos de orelha a orelha, e com o coração a bater bem forte dentro do peito, que mais parecia estar na garganta, fizemos a viagem de regresso ao lodge para almoçar. Quando chegámos, vimos os vídeos que tínhamos feito e enviámos alguns para vocês. O almoço foi colocado na mesa e as tortilhas com carne maravilhosas desapareceram num ápice! Como sempre, a seguir ao almoço, abateu-se a moleza do costume e fui para a minha siesta de 2h! Com o Diogo a acordar-me de mansinho, fui arrancada do meu sono de beleza para irmos mergulhar de novo. “Tenho sono, não quero ir.”, “Anda lá! Vai ser fixe!”, “Ok… vamos lá…”, é a conversa do costume!

Entramos no barco e em 20 minutos já estávamos no spot de mergulho, ao largo de outra ilha, esta mais pequena, no meio de ondas gigantes! Bora lá! Toca a equipar, entrar dentro de água e descer. Normalmente, mal entramos na água, começamos logo a descer por causa da corrente que à superfície é mais forte e num instante nos pode levar para outro sítio. Aqui não foi exceção. Num cenário parecido com o mergulho anterior, quase sem coral, fomos descendo até chegar à parede abrupta que desce até sei lá que profundidade. Começámos logo a ver peixes por todo o lado, eram tantos, tantos, tantos que quase não se via água através deles. Claro que tubarões também não faltaram com uns de pontas pretas a caçar. Até este destino, nunca tínhamos conseguido chegar sequer perto de um tubarão! Eles acabam por fugir. Mas estes não! Como não estão habituados a humanos, ficam curiosos e chegam-se perto, dando-nos a sensação de que se nós não nos desviássemos e se fôssemos ter com eles, eles não fugiam. Mas lá nos vamos desviando, respeitando o território deles, com bastante sensatez e, confesso, receio qb! O Stewie começou a fazer uns sons que atraíam os atuns que nadavam mesmo na nossa direção, de frente para nós, quase causando choques frontais. Só se desviavam à última hora! Que brutal!

Lá fomos fazendo o nosso percurso em modo cruzeiro, até chegarmos a uma parede absolutamente maravilhosa de tantas cores, formas e feitios! Aqui já não havia o turbilhão de peixes grandes e tubarões. Apenas peixes pequenos, estrelas do mar, coral plano, coral tubular, coral em flor, coral pequeno, coral grande, roxo, azul, amarelo, verde, rosa, vermelho, anémonas com nemos, leques onde andam os cavalos marinhos (que ainda não vimos nenhum!) e tartarugas. Ocasionalmente, aparecia um ou outro tubarão de pontas brancas, mas num instante desapareciam. Passeámo-nos por este lindo cenário, que mais parecia tirado do fundo do écran de um computador ou de uma floresta encantada, sem pressas, parando para procurar sem sucesso pelos cavalos marinhos pigmeus. Estávamos tão distraídos que nem nos demos conta de passar os 100bar de oxigénio, que normalmente, é quando costumamos avisar os guias para eles estarem a par do nosso consumo de oxigénio, representando meia garrafa de oxigénio consumido.

Quando olhei para o computador, tinha 80bar e chamei-o a avisar. O Diogo tinha 90bar. Começamos a subir lentamente, para um lugar mais plano e superficial, onde a corrente já se fazia sentir e nos mantinha a fazer ondas para cima e para baixo, de um lado para o outro. Fizemos a nossa paragem de segurança e viemos à superfície, após mais um mergulho extraordinário. Quando chegámos ao lodge, fomos com o Stewie até à aldeia dele, passando por uma floresta densa, cogumelos, orquídeas e gafanhotos voadores, ao lado de uma praia linda de morrer.

Quando voltámos ao lodge, já tínhamos o jantar pronto para fazermos o churrasco! Peixe marinado em limão, sal e gengibre, salsichas e 6 lagostas já descascadas na mesma marinada! Mais arroz, batata doce, salada… vamos sair daqui como lontras! Lá ligámos o grelhador e começámos a grelhar. Claro que não deixámos passar o ponto do peixe, ficando suculento e tenro, desfazendo-se na boca. Demos a provar à cozinheira e ela adorou! Passámos para as lagostas… bem, tenho a dizer que com esta paisagem e a grelhar lagostas, não há muitos mais sítios onde eu quisesse estar. Quando vieram para o prato, estavam douradinhas, suculentas, com veios cor de rosa, ainda com as caudas agarradas ao corpo. Uma delícia de fazer babar qualquer vegetariano! Comemos tudinho, sem deixar para amostra! Só ficou o arroz, a salada e a batata doce. A melhor parte é não ter de arrumar e limpar depois de comer tanto! Temos um hotel completamente à nossa disposição, com todas elas a trabalhar para nós! Top! Para fazer a digestão fomos nos sentar no pontão, a ver o pôr do sol, à espera da bicheza fluorescente! Vimos o pôr do sol enquanto conversávamos, começando a aparecer aqui e ali pontinhos de luz a piscar. Ao longe uma trovoada, lançava relâmpagos na nossa direção mas que acabou por passar ao largo da ilha.

Hoje tivemos como visita um gafanhoto que tem como asas duas folhas perfeitas, com o veio desenhado e tudo, para o disfarçar e para ninguém o comer, confundindo-o com folhas. Quando o descobri, no primeiro segundo pensei “como é que uma folha está ali presa na porta?”, depois quando me aproximei vi umas patas fininhas e pensei “está um bicho qualquer debaixo da folha!”, para só depois reparar que na ponta da folha havia uma cabeça e era um gafanhoto. Está ali desde as 8h00 da manhã. São neste momento 18h00 e ele nem se mexe. Já tentámos bater com a porta para ver se ele se assusta e foge, mas não cede um milímetro! Sempre que queremos entrar no quarto, é um filme, eu já cheguei a passar com uma toalha à volta da cabeça e do corpo, não fosse ele me saltar para o cabelo… Morria de susto! No entanto, com o passar do dia, habituamo-nos à presença dele e quase já nem nos lembrávamos que ele estava ali, exceto quando tínhamos de entrar no quarto e passar literalmente por baixo dele!

Quando fomos mergulhar, esperávamos que quando voltássemos ele já não estivesse ali. Hoje repetimos o mesmo lugar do último mergulho de ontem, porque o Stewie disse que de manhã era bem melhor. Acho que este é o sítio onde mais “sofremos” nas viagens de barco. Eu tenho tomado o enjomim todos os dias de manhã e tem funcionado maravilhosamente bem, porque senão não ia ser fácil. O mar, passando para lá da “nossa” lagoa, depois da rebentação, é muito bravo, com ondas grandes e que vêm de todas as direções. Hoje, para piorar, chovia a sério! Aquela chuva grossa que bate no corpo e pica… com a deslocação do barco ainda pior! Eu acabei por me sentar no chão do barco, em posição de fazer abdominais, quase metida debaixo do banco onde as botijas estão montadas com os coletes, tamanha era a agressividade da chuva. Quando passávamos por uma onda grande, dava um salto no ar (por várias vezes pensei que ia voar do barco) e batia com o rabo em cheio no chão do barco! Que dureza!!!

Quando o barco parou, foi equipar o mais rápido possível e entrar para água e descer para sair da corrente. O Stewie é sempre o último a entrar na água. Uma vez que estamos os 3 lá em baixo, começámos a descer até aos 25 metros, onde tudo acontece. Vimos alguns tubarões mas até chegarmos à parte da parede, foi bastante calmo. Quando estávamos a chegar começamos a ver um cardume de “bumphead parrot fish”, gordos e enormes como vacas aquáticas e, como de costume, com os dois dentes da frente sempre de fora, como coelhos. Parece que se estão sempre a rir! São super engraçados! Andaram à nossa volta durante o resto do mergulho, mesmo quando quase nem vimos uma tartaruga que estava mesmo ao nosso lado, a trincar o coral, muito refastelada e satisfeita. Nem se mexeu quando ficamos a menos de 2 metros dela! O Stewie então, muito calmamente, foi-se aproximando dela, cm a cm, com ela a olhar para ele, com o pescoço todo torcido. O Diogo nem sabia se havia de filmar os bumphead ou a tartaruga… o Stewie lá conseguiu tocar na carapaça dela o que fez com que ela se começasse a afastar, sem ir para muito longe.

Continuamos a nadar, sempre com os coelhos ao nosso lado. Pareciam estar a dançar e a fazer palhaçadas para nós! Quase no final do mergulho, o Stewie viu um stone fish, um dos peixes mais difíceis de encontrar, porque são os que melhor se camuflam no que os rodeia. Imaginem que estava num espaço pequenino, tipo uma mini gruta, com coral roxo à volta e ele roxo estava, com o corpo em forma de coral… nós nunca o teríamos visto! NUNCA! É para isto que servem os guias! Lá acabámos o mergulho e voltamos para o lodge, para almoçar e tirar uma sestinha antes do segundo mergulho, que iria ser em Bulo, o mesmo de ontem onde vimos os tubarões cinzentos. E não é que o raio do gafanhoto ainda estava exatamente no mesmo sitio?! Bolas… Comemos umas sandes e as maravilhosas bananas fritas, que eles chamam mesmo de bananas fritas (parece que falam português!) e fomos dormir.

Acordamos às 14h00 para ficar a saber que o compressor de encher as botijas do mergulho tinha avariado e que não íamos mergulhar de tarde. Mas estava um banho de sangue a acontecer no pontão! As mulheres estavam a arranjar peixe mesmo no fim do pontão e estavam 5 tubarões de pontas pretas, 3 deles bem grandes já com rémuras agarradas a eles, e instigados pelo sangue que caía na água, andavam aos círculos debaixo dos pés delas. Elas iam atirando as vísceras dos peixes para a água e era um frenesim de peixes pequenos e peixes intermédios a tentarem comer o que conseguiam, até vir um dos tubarões e ficar com tudo para ele. Isto durou algum tempo, com as mulheres a terem de arranjar três atuns gigantes e 10 peixes mais pequenos que os atuns mas que mesmo assim eram do tamanho de uns bons robalos! Chamam-lhes de “Big Eye Jack’s”.

Com o pontão coberto de sangue, o Diogo pega numa das vísceras e na GoPro e fez alguns vídeos dos tubarões a comerem. Quando acabou o arranjo do peixe, elas perguntaram se nós gostávamos de sashimi…………….. se gostamos de sashimi?! Nada! Não gostamos é pouco! Façam muito, mas é! Dissemos logo que adoraríamos que nos preparassem um sashimizinho gordo para o jantar! Elas assentiram e no meu estômago até sinos tocaram!! Fomos até uma praia ali perto, refrescar, sai dali da zona onde tinham arranjado o peixe (estava um calor de morrer) e encontrámos uma praia com cordas que a criançada usa para se atirarem à água. O Diogo subiu à árvore e eu filmei! Foi super divertido ver o meu sapinho a esparramar-se ao comprido pelo mar dentro! Rimo-nos imenso!

Voltámos ao lodge (para ver o gafanhoto estátua no mesmo sítio, começamos a achar que ele morreu ali!) e decidimos ir pescar… bem, nenhum de nós alguma vez pescou e sabíamos que não ia ser fácil, mas íamos tentar nem que fosse só para nos rirmos um bocado. Pegámos na canoa e lá fomos nós ter com uma pescadora, que já estava no meio da lagoa, para lhe pedir uns iscos e uma linha. Ela lá nos deu e começámos a nossa saga da pescaria. Confesso que o jeito era muito pouco, mas os peixes são mais espertos do que nós estávamos à espera! Por muito que amarrássemos o isco ao anzol, eles numa fração de segundo conseguiam arranca-lo, sem nos dar tempo sequer de puxar a linha. Fração de um segundo! Mais rápido que um relâmpago! Era incrível! Isco a seguir a isco, um por um, foram todos comidos pelas suas espertezas… quase os ouvia a rirem-se de nós! Resignados, entregámos a linha à pescadora e viemos embora já com o sashimi prontinho à nossa espera! Comemos, vimos o nosso mar mágico e super estrelado e viemos dormir, que o sono já aperta às 20h00!

PS: quando voltamos da pesca, já não havia gafanhoto…

A noite foi péssima… choveu tanto que parecia que o céu ia cair. O barulho da chuva a bater nas paredes e teto de madeira do lodge era ensurdecedor! Quando começou a trovoar, até a cama abanava! Juro que pensei que era o vulcão ou um tremor de terra. Às 3h00 da manhã, sem conseguir dormir, já estava a fazer um filme na minha cabeça… Os raios iluminavam tanto o exterior como o quarto todo, como se fosse dia. As osgas nem se mexiam (agora são 4, as nossas companheiras de quarto e fazem cocó por todo o lado). E o Diogo dormia como um anjo. Num dos trovões mais intensos, lá despertou um bocadinho e disse “bolas, que medo!” e adormeceu de novo. Consegui dormir das 5h00 às 7h00 e acordei com as empregadas a abrir as janelas e portas lá fora.

Deixei o Diogo a dormir e fui ver a tempestade. Há umas ilhas aqui perto, onde nós costumamos ir mergulhar, que nem se viam, tal era a chuva. Era tão densa e tão pesada que não se via nada além da lagoa. Tomamos o pequeno almoço (hoje tivemos scones com manteiga e compotas, chá, leite e café) e tivemos de esperar que a chuva passasse. Só quase às 10h00 é que pudemos sair. Ainda chovia ligeiramente mas o céu prometia sol. Fomos para Kitcha, onde todos nos diziam ser o melhor mergulho depois de Bulo (o sítio dos tubarões cinzentos) e de facto o mergulho foi muito bom! No primeiro, conseguia-se ouvir o vulcão subaquático que fica a quase 40km do sítio onde nós estávamos e a visibilidade era top! Mal descemos encontrei um peixe escorpião, também muito difícil de encontrar, graças à sua capacidade de camuflagem. Fiquei orgulhosa! Vimos tubarões e uma manta, mas a parte mais bonita era mesmo o som do vulcão, que quase parecia um trovão longo, a visibilidade e o coral. O Diogo perdeu o filtro vermelho ontem, por isso os nossos vídeos e fotos agora são todos azuis e verdes… uma caca!

Almoçamos na ilha e o Stewie foi connosco apanhar uns búzios gigantes para o nosso jantar. São muito bonitos e têm um sistema de clausura super engraçado! Têm uma concha tipo porta que está anexada ao corpo que abre e fecha. Trouxemos um saco enorme delas… vamos ter um bom petisco logo! Depois da apanha, fomos mergulhar de novo um pouco mais à frente. Foi um mergulho muito calmo mas a visibilidade e o coral era tão bonito como o anterior. Este ia ser o nosso último mergulho aqui. Terminámos em grande!

Kitcha revelou ser um spot muito bonito e surpreendente. Voltámos para o lodge e o Stewie descobriu que hoje é o aniversário dele! Não sabia que dia era hoje, só quando olhou para o calendário é que se apercebeu! Estranho, não é? Não se saber que dia é… Eu sentia-me como se um camião me tivesse passado por cima… o Diogo foi andar de canoa e fiquei no lodge a escrever e a relaxar. Vimos um pôr do sol lindo e tiramos muitas fotos, é o último pôr do sol neste paraíso. Amanhã vamos para Honiara, se o tempo nos permitir e se não se lembrarem de cancelar o voo, o que põe em risco não mergulharmos no Bonegi porque só temos o dia 22 para mergulharmos. Se cancelarem o voo não vamos poder mergulhar por causa das 24h que temos de respeitar devido à doença de descompressão.

Bem, quando nos puseram o jantar na mesa e nos fizeram a apresentação habitual dos pratos servidos, nem queríamos acreditar… pizza de lagosta! Aqui a bichinha é tão barata que até fazem pizza dela. Confesso que prefiria que a tivessem grelhado, mas vale a intenção! Deram-nos também os búzios que tínhamos apanhado em Kitcha e arroz. Já dizia o meu Pai quando não provava o arroz: “o arroz está uma especialidade!” Foi como hoje. Ninguém tocou no arroz. Enchemos o bandulho com buzios e pizza. E de sobremesa? Banana frita!!! MARAVILHA!!! Despedimo-nos do mar estrelado, dos pirilampos e ainda encontrei um peixe escorpião! Amanhã vamos ver se ainda lá está.

PS: estamos chocados com o incêndio… coitadas daquelas pessoas! 🙁

O dia amanheceu com o céu mais azul de todos estes dias que estivemos em Peava. Acordámos cheios de calor e com os papagaios e catatuas a cantar e com o barulho da água calma da lagoa a bater na areia. A nossa preocupação hoje é saber se o voo para Honiara não é cancelado e se vamos hoje ou amanhã. Não queríamos nada ter essa péssima surpresa, que se acontece, rouba-nos a oportunidade única de mergulharmos no Bonegi. Tomámos o pequeno almoço e fomos nadar pela última vez nesta lagoa maravilhosa de água a 30 graus. O que eu dava para ter isto em Leça!

Com o calor vêm as moscas e elas aqui são chatas como tudo! Estão sempre à nossa volta e à volta da comida, obrigando-nos a estar sempre a abanar as pernas e os braços a tentar afasta-las de nós e da nossa comida. O sol hoje está forte e só no sábado é que tivemos um dia semelhante. E como no sábado (que é o Shabat), hoje não há nada que possamos fazer a não ser nadar. Temos as malas por fazer e o almoço por comer quando chegar a hora dele. Pegámos nos restos do pão do pequeno almoço e fomos dá-lo aos peixinhos esfomeados do pontão. Estes já sabem que trazemos comida, mesmo quando não trazemos, e vêm ter connosco mal entramos na água. Às vezes chegam-se perto até demais e há um que me vem sempre morder o pé na escada do pontão. “Morder”, porque só faz cócegas! À primeira pensei que era uma folha, mas depois vi que não havia folha nenhuma, mas também não consegui descobrir que peixe era ou mesmo se era um peixe! O curioso é que só me morde o pé a mim! O Diogo saiu ileso disto tudo! Devo ser mais saborosa! Tem bom gosto!

Quando atiramos o pão à água, caramba! É só vê-los a aparecer, a nadar super rápido, que nem setas, para ver quem é que fica com a migalhinha que caiu na água. Se atirarmos para outro lado, bem longe dali, lá vão eles, disparados atrás de mais comidinha! Quanto mais pequenos, mais rápidos são! Os maiores são bastante mais lentos e ficam a perder. De vez em quando lá empurram os mais pequenos, que se desviam, e abrem a bocarra para o pão. Com esta agitação vem o tubarão de pontas pretas, curioso, para ver o que se passa e se há algum peixito em apuros, para ele dar uma boa trinca! Nada… não há nada para ele. Dá umas voltas e vai à vida dele! Mas hoje não apareceu.


Depois de fazermos as malas e arrumar tudo, foi hora de comprarmos um almofariz e uma pequena estátua, ambos de pedra, feitos pelos locais da vila de Peava. Embalámos os beijinhos que apanhamos em Kitcha e as conchas que fomos recolhendo aqui e ali como souvenir. Aqui não há lojas, nem supermercados. Aliás, o nosso lodge é o único sítio com um frigorífico. Não há estradas, apenas caminhos, onde mal andam 2 pessoas lado a lado. Não há carros, nem motas. Eu vi uma bicicleta! O meio de locomoção são os barcos banana. A eletricidade é escassa. No sábado, vimos as crianças melhor vestidas, mas a maior parte das vezes andam nuas e descalças ou de chinelos. Os caminhos têm pedras, ramos, folhas, musgo, lama e buracos feitos pelos caranguejos, mas as crianças correm e jogam futebol descalços como se fosse cimento polido.

A entrada no mar, para nós é feita de chinelos e com muito cuidado e pé ante pé, a medir todo o sítio onde vamos pousar os pés. Eles não! Correm e atiram-se para a água como se o fundo fosse todo de areia fina. Já para não falar de possíveis perigos que possam haver no fundo, como peixe crocodilo, peixe pedra, etc. que podem matar um adulto em minutos! Aqui vive-se o dia a dia, um minuto de cada vez. Amanhã logo se vê! Durante o dia, as mulheres conversam, preparam as refeições, lavam a roupa e limpam. Os homens conversam, dormitam, comem, alguns mergulham e por volta das 17h00 começam a preparar tudo para ir pescar até virem com o barco cheio de peixes.

Lembram-se da nossa pescaria falhada? Pois bem, ontem o Diogo quando foi andar de canoa, esteve a ver um homem a pescar. A técnica dele é ter bons ganchos, novos e afiados. Ponto! Não há cá isco grande, pequeno, restos de peixes, lulas ou casas alugadas! Usa três ganchos muito afiados e brilhantes, põe um peso grande na ponta, atira a linha e vai puxando e largando a linha em movimentos rítmicos. Isso faz com que os ganchos rodem e brilhem e isso, pelos vistos, atrai os peixes que vão lá morder a pensar que o brilho é comida. Fácil, não é? Parece! A verdade é que ele apanhou grandes peixes, aos 3 e 4 de cada vez! Era só atirar a linha, esperar 10 segundos e aí vinham 3 ou 4 peixes gigantes de cada vez. O Diogo estava espantado! É muito ano a virar frangos! Tanta era a nossa técnica, cheios de teorias de como seria a maneira mais fácil, passando por usar iscos maiores, prender melhor o isco, ter paciência, puxar e largar a linha ritmicamente, atirar o isco para longe da canoa, não falar, não nos mexermos… tudo uma treta!

Ganchos novos, afiados, brilhantes e usar 3 de uma vez com um peso forte na ponta! Mais nada! Temos de ir pescar para o Atlântico! Talvez no Pss cala-te! Às 12h00, como é habitual, puseram a comida na mesa. Não falha! Meio dia em ponto! Nem é preciso relógio. Filetes (não panados) de peixe grelhado com arroz, legumes e ovo cozido. Fruta de sobremesa… confesso que fiquei triste por não ter direito à já habitual banana frita…

No final de almoço, eles insistiram que era melhor irmos para o aeroporto e apesar de nós acharmos que era muito cedo, porque estava bom tempo, obedecemos e às 12h55 estávamos a sair do pontão. Íamos ter saudades! Debaixo do sol das 13h00 fizemos 1h45 de viagem do lodge até ao “grande aeroporto” de Seghe! O lounge é uma sala de 4m2 com uns bancos corridos de madeira. Mais nada! Lá fora, relva e lama e mais uns bancos de madeira para quem se quiser sentar. As pessoas atravessam a pista, correm por ela fora, jogam futebol e à apanhada… há um caminho, tipo rua, no meio da pista para as pessoas atravessarem. Top! Ou seja, chegámos às 14h40 e o voo era supostamente às 17h20. Que tédio num calor de fazer derreter um icebergue em segundos! Muitos joguinhos de telemóvel depois, tinha passado 1h00… nossa! Chamaram-nos para fazermos o check in, onde temos de pesar as malas e nós com a bagagem de mão. 10 minutos depois, mais nada para fazer. De vez em quando ouvíamos um ruído que parecia ser de um avião e lá ia eu ver se estava a chegar a nossa salvação. Não, era só um barco a passar na lagoa… ui! Que calor!

O responsável pelo “aeroporto” anunciou que o nosso avião tinha feito um desvio para abastecer e tinha ido a Gizo, uma ilha mais a norte e que ainda ia parar em Munda, que fica entre Gizo e Seghe. Já estávamos a antecipar um cancelamento do voo. Se eles aterram de noite (que acontece às 18h30), já não íamos a lado nenhum hoje e eram 17h15! Fomos ver uns miúdos a jogar futebol mesmo ao lado da pista e um fulano que trabalha num liveaboard meteu conversa connosco e ficámos a conversar algum tempo. Que calor! Parece que a cada minuto que passa fica mais quente! E a fome estava a começar a apertar… tínhamos umas bolachas de côco na mala, toca a recorrer ao back up plan. E os minutos a passar, o sol a baixar, nada de avião, o calor a pressionar e nós a desesperar!

De repente, vemos o responsável a ir em direção à pista. Fomos logo ter com ele. Diz-nos que o avião já estava a sair de Munda e que demorava 20 minutos a chegar. Eram 17h45… vamos ficar em terra! Eu pergunto-lhe “Are we still going to Honiara?” “YEAH!”, num tom muito arrastado e descontraído e que não me deu confiança nenhuma! 5 minutos depois, estava eu a olhar para o céu, na direção de onde o avião tinha vindo à chegada, já dentro da pista (no one cares!) e vejo um pontinho preto no céu. “Será?!”, “Pode ser…”, “Acho que é.”, “Di, Di! É o avião! Ali, ali!” Que festejo! Com que então estava a sair de Munda e demorava 20 minutos… bolas para estes salomões, que não sabem as horas!! Alguém lhes dê um relógio e lhes ensine a diferença entre segundos, minutos e horas por favor! Às 18h00 já o avião estava a descolar. Quem está, está! Quem não está, estivesse! Vamos lá antes que se lembrem de dizer que já não dá! Sobrevoamos a Marovo Lagoon e o Wilderness Lodge e fizemos um vídeo para vocês verem o sítio onde nós passamos os últimos 6 dias a mergulhar. 

Num instante anoiteceu! Mais 15 minutos e não tínhamos vindo…

Honiara, Salomão

Chegados a Honiara, ainda tínhamos de arranjar um táxi até ao apartamento e arranjar um sítio para jantarmos. Lembramo-nos da pizza deliciosa que comemos no hotel King Solomon e pedimos ao taxista para nos deixar lá. Ainda por cima tem internet! Top! Venha mais uma pizza hawaiana e uns minutinhos de borla de net da boa, por favor!

Estávamos nós a mandar mensagens para vocês a dizer que tínhamos conseguido vir para Honiara, quando vem uma asiática, com um marido de aspeto ocidental, ter connosco e mete conversa como se já nos conhecesse há anos! Depois de 5 minutos a falar connosco e comigo a ver que tão cedo não se ia calar, perguntei se queriam partilhar a mesa. Disseram logo que sim e alaparam o rabo ali, sem rodeios ou vergonhas! Acabámos por saber que ela era tailandesa (mandamos logo o nosso “sawatika”, olá em tai e o “capcumca”, obrigada) e ele austríaco, casados há 1 ano e recentemente a viver nas Fiji, em Suva, os dois professores. Acabou por ser um convívio agradável, com a tailandesa a falar pelos cotovelos! Conversa puxa conversa, assunto puxa assunto, viagens puxam histórias, jantámos e despedimo-nos com um até amanhã, pois pretendemos voltar a jantar no King Solomon para usar a net! Dessa vez iremos experimentar a comida tailandesa que a Kosita (nome tão pouco tailandês!) diz ser óptima! Apanhámos um táxi e viemos parar ao apartamento do airbnb, que depois de uma primeira impressão e uma rápida vistoria, não parece ser muito mau. Pelo menos tem rede mosquiteira, que nos ajuda a sentirmo-nos seguros e protegidos dos mosquitos.

O apartamento do airbnb deixa um bocado a desejar… o problema são as expectativas. Vimos as fotos e de facto, parecia ser bem melhor. Quando chegamos cá, é mais fraco, cheira a humidade, tem buracos nas redes das janelas e as paredes nem tocam no teto! Aparentemente não é mau, tem as paredes brancas, lençóis brancos, a rede mosquiteira é branca, tem um tapete de palhinha beije, temos casa de banho privada (cheia de mosquitos!) e até temos um pátio. Eles tentam fazer isto bem, a sério que tentam, mas não sabem fazer melhor. Este é um claro exemplo disso.

Acordámos às 6h00 da manhã e, depois de nos arranjarmos, saímos do quarto para irmos apanhar um táxi. O café/bar da casa (que é mesmo em cima da praia com uma vibe surfista, super engraçado por sinal, e ainda com balas e granadas da II guerra expostas) ainda estava fechado. Fomos até ao portão principal que dá para a rua, mas estava fechado. E agora? Olhamos e procuramos por todo o lado e nada… só passados uns 3 minutos, é que reparámos que estavam 2 pessoas a dormir nos bancos do café! Estivemos mesmo ao lado deles e nem os vimos. Deitados e todos cobertos por uma manta, estavam super bem disfarçados! Eu toquei no ombro de um deles e ele nem se mexeu… o Diogo tocou no outro e lá conseguiu que ele acordasse. Pedimos para nos abrirem o portão, se sabiam algum sítio onde se pudesse tomar o pequeno almoço e eles disseram que não, só no centro da cidade. Esperámos que passasse um táxi e nada. Começamos a ver os autocarros a passar e perguntámos qual deles ia para o centro e lá nos mandaram parar um deles. Os autocarros são iguais ao da PNG.

Plano: alugar o carro, procurar um centro de mergulho, tomar o pequeno almoço. Problema: está tudo fechado! Perguntámos numa bomba de gasolina por um sítio para tomar o pequeno almoço (já são 7h00) e mandaram-nos para um café, tipo Starbucks, onde um cappuccino, um leite com chocolate e 6 panquecas de banana nos custaram 200 dólares salomões! Cerca de 25€. Mas tem net!! Ah!!! A net rápida… que sabor a civilização! Que saudade! Lá comemos, com muita calma porque tínhamos de esperar pelas 8h00 para que tudo abrisse, falámos convosco e lá fomos buscar o carro às 8h00 em ponto. Acabámos por não alugar um carro mas sim uma scooter que aqui é bem mais prática (há bastante trânsito nesta cidade e as ruas estão cheias de buracos) e bem mais barata. Mesmo por trás do rent-a-car, estava um centro de mergulho e num piscar de olhos, vimos todos os nossos problemas resolvidos!

1h00 depois já estávamos a entrar no mar para fazer o primeiro mergulho no Bonegi 2. Este está afundado numa praia a 20km de Honiara, num terreno que pertence a alguém e essa pessoa cobra por cabeça cerca de 4€ para entrarmos na praia. O Bonegi 1 e 2 estão afundados lado a lado, a cerca de 1km de distância. O 1 ainda tem a proa de fora, estando a parte mais funda a 30 metros. O 2 tem a parte mais funda a 60 metros. Ambos foram afundados já depois da guerra terminar, para que os inimigos americanos não tivessem acesso à maquinaria top secret e super avançada dos japoneses. Aqui qualquer praia tem dono e é preciso pagar em todas uma média de 5€ para entrarmos… careiros!

Como o 2 está mais fundo, tem coral mais bonito e mais vida do que o 1. No 1 vimos mais raias e eu descobri os gobis que protegem a casa dos camarões (lembram-se?) e um peixe escorpião super bem disfarçado! Tenho jogado muito às diferenças no telemóvel, para treinar! Eu gostei muito dos 2 mergulhos, mas o Diogo ficou um bocadinho dececionado.

A verdade é que o SS Coolidge, em Vanuatu, era bem melhor. Podíamos entrar e ver os artefactos e as salas, utensílios, tudo muito bem preservado. Aqui não. Para além de serem barcos muito mais pequenos, estão mais estragados e só conseguimos passar por um buraco feito por um torpedo. Tudo super escuro e estreito, não se podendo tocar em nada. Outra vez, gestão de expectativas… Terminados os mergulhos, fomos almoçar ao street market, um sítio tipo centro comercial chinês, todo fancy, onde provamos o que não comemos no Japão – caril japonês. Pagamos +- 25€ os 2! A seguir fomos fazer a estrada e praias para noroeste, para o mesmo lado dos Bonegi’s, onde o cenário muda por completo. Deixámos de ter estradas com buracos e lamacentas, para termos boas estradas. Não vemos pessoas, mercados, casas, carros… vemos palmeiras, árvores, casebres onde dizem vender cerveja fresca, pessoas sentadas nos minúsculos alpendres, sentadas em bancos de carros, putos a jogar futebol descalços no meio da mata, um carro que esporadicamente passa por nós e praias de um lado e montanhas e planícies do outro.

Fomos visitar um tanque americano e tirámos montes de fotos! Tivemos de pagar 60 dólares salomões os 2 (7€) e o dono do terreno foi connosco, para nos explicar tudo e contar as histórias que deve contar a toda a gente que lá vai. No caminho, passámos por silvas e eu raspei a perna, ficando toda cheia de picos na lateral da perna esquerda. Chiça penico!!! Que dores! Lá estive a tirar os picos todos enquanto o Diogo explorava o tanque. Seguimos caminho. Passámos por pessoas que caminhavam pela estrada, por galinhas, porcos e leitõezinhos, miúdos com tanto monco no nariz que dava para uma refeição e alguns “home stays”, cujo um chegamos a ver no booking, o Dolphin View! Acabámos por dar a volta e voltar para trás, porque estava a começar a ficar escuro e não queríamos fazer estas estradas de noite. Chegados a Honiara, tomamos um banho e fomos jantar ao King Solomon.

O nosso último dia em Honiara foi passado sem grandes pressas, sem compromissos e basicamente sem nada para fazer. Tínhamos de comprar os últimos souvenires, encher uma garrafa de água com areia e queríamos explorar a parte este da ilha. Não é possível dar a volta completa à ilha, porque não há estrada a percorrer a parte sul, já para não falar sobre o tamanho da ilha que não o permite fazer num dia. Por isso, sabíamos que não íamos longe… então, a seguir ao pequeno almoço (e uma curta conversa convosco, que devem estar todos em preparação para o meu rico São João, ao qual este ano vou falhar…), fomos explorar esse lado, na nossa scooter bege!

Como acontece para o lado oeste, a paisagem muda completamente. Muito mais relaxada e tropical, com alguns casebres e posto de venda de fruta, plantações de palmeiras, coqueiros e bananeiras e uma igreja de uma das inúmeras seitas religiosas que abundam na ilha. Atravessámos alguns riachos e 2 rios. Quando decidimos voltar para trás, a mota simplesmente para! Não era falta de gasolina, porque tínhamos posto antes de iniciarmos a viagem… Com o Diogo sempre a insistir na ignição, sem sucesso: “E agora?”, perguntei eu. “Estamos fodidos!”, diz o Diogo. E estávamos mesmo. Sem ninguém à vista a quem pudéssemos recorrer e debaixo de um sol infernal…

Entretanto, parou um carro e sai uma senhora para nos ajudar. Quando ela chega à nossa beira, a mota começa a trabalhar! Por milagre e sem qualquer explicação ou justificação, arrancou! Voltou da mesma forma que se foi. Agradecemos a simpatia da senhora, dissemos adeus e seguimos viagem, com o plano de não parar mais até ao stand onde a alugámos! Segundo problema: chuva! Da pesada! Bem… quando chove aqui, não é a brincar! É aquela chuva que bate no corpo e dói, grossa e pesada. Com a deslocação da mota ainda pior. Em menos de um minuto estávamos encharcados, da cabeça aos pés! Parecia que tínhamos caído ao mar vestidos! Torcíamos a roupa e parecia uma torneira. Estávamos a 40 minutos do stand… debaixo de chuva. Oh São Pedro…

Mas lá chegámos e trocaram-nos a mota por outra bem melhor e mais confortável. Hora de ir almoçar. Passamos pelo “Hyundai Mall” e entrámos à procura da praça de alimentação. Mesmo à minha frente estava uma farmácia que vendia o meu precioso perfume que está esgotado em todo o lado! Trouxemos as 2 embalagens que tinham! Yeah!!! Já tenho perfume para uns tempos! Fomos almoçar e depois veio o ataque aos souvenires. Não há quase nada de jeito nesta terra, mas encontrámos a nossa caneca habitual! Já não é mau.

Fomos encher a garrafa com areia e fomos nos arranjar para o nosso último jantar nas Salomão. Fomos à happy hour do Heritage Hotel e o austríaco e a tailandesa foram lá ter. Às 19h00 fomos jantar de novo ao King Solomon porque era sexta à noite e era “pizza day” e havia animação. Mas que animação! Polinésias a dançar musicas hawaianas, a fazerem truques com cordas, bolas e facas e depois vieram buscar ao público pessoas para dançar o hula! Graças a deus não nos vieram buscar a nós! Depois tiraram as mesas e tiveram uma banda a tocar e a cantar. As Aussies (é o que se chama aos australianos) dançavam descoordenadamente e descompassadamente, como se fosse o seu último dia na terra! Só visto!! Toca a abanar a banhoca com os seus cabelos mal amanhados e descolorados, com os seus vestidos horrorosos, a cantar e a sacudir os braços como se se estivessem a afogar. Demais! Pelo menos tiraram o rabo da cadeira e divertiram-se… bem mais do que nós, que só olhamos. Depois de trocar os contactos (dá jeito conhecer alguém nas Fiji), despedimo-nos e viemos dormir para amanhã iniciar a viagem de regresso.

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