Carrego no botão na porta do carro e o vidro desce. Rodamos o botão do ar condicionado para o zero e pela janela entra o intenso calor abafado e o ensurdecedor som das cigarras. Percorremos os ziguezagues da encosta recortada. As falésias… as baías com a ondulação perfeita e ritmada.
Na beira da estrada vemos vários balcões improvisados, uns em madeira cortada de forma tosca, outros em zinco. Aqui, os bens consumíveis são substituídos por boias e artigos de praia. Várias formas, cores e modelos para agradar aos mais picuinhas.
A vegetação é seca e parece sofrer perante tanto calor. As árvores centenárias enraizaram-se aqui séculos antes e agora vêem a animação das pessoas e dançam ao som do típico compasso das músicas latinas.
Passamos por túneis longos, sem luz, escavados na rocha e ao começarmos a descer a falésia avistamos a enorme placa verde a pedir atenção para a presença de surfistas a atravessar a via. Passamos por Mizata, La Perla, K59, El Zonte para decidir onde pernoitar, não temos nada marcado. Ao chegar a El Sunzal, pelo canto do olho vemos o invulgar sinal amarelo a anunciar a chegada à Surf City. Estes invulgares sinais dizem tudo: chegamos ao sítio certo, é aqui que queremos estar.
Cada casa tem uma cor… Uma cor forte. Paredes marcadas pelas emoções, histórias e que contrastam umas com as outras. Murais grafitados decoram outras paredes e as plantas e palmeiras dominam a área. As ruas estão em obras e os carros são obrigados a fazer um desvio.
Passam por nós vários surfistas, homens e mulheres, de prancha debaixo do braço, equipados só com os devidos fatos de banho. Descalços fazem o caminho até ao mar que está a 30ºC e que chama por eles como um canto da sereia, com as ondas a quebrar nas rochas e pedras que compõem a praia.
“Onde é que se come bem aqui?”, perguntamos nós ao polícia simpático que patrulha a zona. Ele aponta para a Esquina Los Amigos e sorri, envergonhado. “gracias, amigo!” e ele acena.
Este sítio tem as melhores popusas de El Tunco, viemos a descobrir. E o ingrediente secreto é o tipo de queijo. E enquanto as popusas fritam, os meninos escolhem as pranchas na porta ao lado. Estão com a ansiedade no pico e desconfio que se eu não estivesse aqui, nem tinham almoçado.
Meto o dedo do pé na água da piscina e nem sinto a diferença de temperatura. Maravilha! Deslizo o corpo pela água lentamente, absorvendo este momento tão especial e único. Solto um “aaahhh” e sinto os músculos a relaxar.
Sustenho a respiração e deixo de fazer força nas pernas para manter a cabeça fora de água. Ela entra e o cabelo fica solto, sem gravidade. Deixo-a assim uns segundos. Aprecio a sensação e volto a respirar oxigénio. Pego na bola de plástico que compramos por 2 dólares e uso-a para flutuar. Relaxamento total dos músculos do corpo. “aaahhh” outra vez.
As pessoas passam e cumprimentam sempre enquanto tenho o corpo de molho. Passo as manhãs e as tardes aqui. Eles sorriem perante a criança que cresce em mim dentro de água.
Cinco dias sem fazer nada passam a correr e o dia de regressarmos a casa, chega mais depressa do que desejamos. Dizemos adeus a El Salvador prometendo voltar.