Andar a saltar de aeroporto em aeroporto é sempre cansativo mas também é assim que se aprende alguma coisa. Nesta viagem chegámos a várias conclusões:
- viajar pelo kiwi.com é uma treta! Não garantem nada caso hajam atrasos, não deixam acrescentar bagagens, não há cá luxos de nos sentarmos juntos e não deixam fazer check in online. Mais vale comprar diretamente no site da companhia aérea em questão.
- ir pelo voo mais barato, nos Estados Unidos, nem sempre é a melhor opção… não há comida a bordo, não há entretenimento e são aviões duros e desconfortáveis. O que se poupa na compra do voo, gasta-se a comer no aeroporto (que não é barato), passa-se mal sem nada para fazer durante 7h de voo (a não ser os jogos do telemóvel) e nem dormir se consegue de tão desconfortável que se vai.
- filas e filas e mais filas nos controlos de passaporte que podem ser evitadas se, enquanto esperamos, formos analisando qual a fila que anda mais rápido, que normalmente são as das pontas por terem mais cabines a atender pessoas.
- aproveitar as free shops para nos perfurmarmos sem ser preciso trazer perfume a ocupar espaço na mala (enquanto fazes uma dança sensual estilo Borat para a tua mulher!). Claro que isto só compensa se visitarem várias vezes os aeroportos, como é nosso costume.
- aprender com os americanos que a arrogância não nos vai dar aquilo que queremos, nem muito menos vai resolver o problema em questão mais rápido se falarmos mal ou formos agressivos e autoritários. Vimos uma mulher a ser tão imbecil com um dos funcionários no check in que só lhe dizia palavrões, tudo porque a mala dela era demasiado grande para ser considerada bagagem de mão.
- o boarding nos “States” é demasiado ridículo para se compreender. Começam a embarcar da frente do avião para trás, em vez de começarem pelas cadeiras de trás, facilitando a entrada das pessoas, ao mesmo tempo que se vão pondo as malas nos devidos compartimentos, sem atrapalhar nem bloquear a passagem a ninguém.
Saímos do Wayfaring bem cedo para deixarmos Columbus e o frio para trás, indo para Fort Lauderdale, onde o calor da Flórida, o sol e as camisas floridas típicas destes ambientes já predominantemente caribenhos estão bem presentes. Mal podíamos esperar por apanhar ar quente na carinha e solinho nestes corpitxos geladinhos! Foi um vôo apinhado de gente, sem estarmos sentados juntos (para variar), sem comida nem bebida, sem filmes e eu no meio de dois senhores de, pelo menos, 120kgs cada um! O do meu lado esquerdo, passou as 6h a fungar enquanto via online o jogo de futebol americano. Nem fome deve ter tido de tanto monco que engoliu. Já não o podia ouvir passados 15 minutos de vôo!
Quando lá chegámos, sentimos logo a vibe tropical, o calor que vinha das portas quando estas se abriam para o exterior e as camisas coloridas cheias de flores nos corpos dos americanos loiros e bronzeados pelo sol. Vimos imensos reformados que vêm para este pequeno paraíso de bom tempo. Boa vida!
Aqui já se começa a ouvir outras línguas, típicas das Caraíbas. Ainda consideramos sair do aeroporto, apanhar um Uber e ir até à praia, mas a senhora do check in disse, com o seu sotaque, que era arriscado e achámos melhor ficar por ali. Ainda fomos lá fora sentir a humidade e o calor e de seguida entrámos na terra de ninguém. Tivemos de despachar uma mala a custo de $60 e mais uma vez arrependemo-nos do kiwi.com.
Almoçamos num restaurante cubano, onde comemos “ropa vieja” (carne estufada esfiada com cebolas e pimentos, com arroz de feijão e banana frita) que por sinal estava uma delícia, e trouxemos uma pizza para comermos no voo ou à noite quando chegássemos ao hotel onde íamos dormir na nossa escala de 7h. Ou seja, entrámos no avião com uma caixa de pizza debaixo do braço, tipo peruanos que viajam com sacos plásticos cheios de batatas e cebolas! Só visto!
No vôo para Lima, já fomos lado a lado, com a pizza aos nossos pés e a passar o tempo entre dormir e jogar trivial pursuit, solitário, sudoku e mahjong. Atrás de nós, ia um chinês com um tique horroroso de puxar catarro de 15 em 15 segundos.
Cheguei a olhar para trás para ele com cara de má, tipo “Já parávas com isso, não? Já não te posso ouvir!” Não funcionou… foi a viagem toda nesta cantoria de catarro para os meus ouvidos.
Bem, se pensávamos que Dehli e as favelas do Rio de Janeiro eram os piores lugares deste mundo a nível de construção, bem vindos a Lima! Para além de perigoso, parecia que tínhamos caído de páraquedas na favela da Rocinha no Rio de Janeiro. Tudo em tijolo, sem qualquer tipo de acabamento e sem vidros nas janelas… Último grito na moda da construção! Tirei fotos para me inspirar nos próximos projetos!
As estradas cheias de buracos, com lixo por todo o lado, não deixam os carros andar muito depressa, o que me pareceu meio propositado para poderem “atacar” qualquer carro que passasse. O motorista do Uber, quando parou o carro num sinal de trânsito, disse-nos para não ligarmos o telemóvel porque a luz atrai os “delinquentes”, que partem o vidro e roubam o que houver para roubar. Ficámos logo em modo alerta total, sempre a vigiar pessoas que passavam perto do carro, nem que fosse a 10 metros de distância. Animais do campo a passear nas ruas também é muito normal por estas bandas.
Quando chegámos ao “hotel”, só queríamos fugir! Era nada mais nada menos do que um dos muitos outros edifícios em tijolo, tipo barraco, mas este estava estucado de azul. Olhámos um para o outro em busca de consolo e conforto mútuo do tipo “vai correr bem” ou “não vai ser assim tão mau lá dentro”, enquanto tocávamos à campaínha, à espera que um de nós dissesse “vamos embora para outro lado e rápido!”. O motorista ficou connosco até nos abrirem a porta e ainda bem porque demorou tempo suficiente para o Diogo dizer “não vamos ficar aqui!”, que foi no preciso momento em que uma senhora de pijama abriu a porta! Já estávamos a pegar nas malas…
Agradecemos ao motorista por ter esperado connosco e quando entrámos, subimos umas escadas estreitas até ao 1o andar, onde existia uma sala com uma cozinha, duas casas de banho e três quartos. O nosso quarto era composto por uma cama de madeira e uma poltrona muito gasta. O chão num plástico tipo as toalhas plastificadas de exterior tinha várias cores e flores. O colchão era de molas e quando nos mexíamos, parecia um colchão de água. Os lençóis já não eram mudados há meses e já não viam um detergente há outros tantos! As almofadas era finas e moles e eu confesso que tive a certeza que nem sequer ia conseguir adormecer. Precisava de um banho para lavar o cabelo, relaxar e adormecer. Só deu tempo para me molhar e pôr sabão no cabelo (sim, sabão! Não há champô neste fim de mundo!) para terminar a água quente… depois disso foi tirar o sabão do cabelo e do corpo com água gelada. Disse mal da minha vida! O Diogo já não tomou banho sequer…
Custou-me horrores a adormecer mas lá consegui depois de imenso tempo com os olhos fechados a pensar na vida. Quando o despertador tocou nem sabia onde estava e ainda demorei algum tempo a descobrir. Estava a sonhar com o Mário e a Sandra e com a nossa viagem. Estávamos num aeroporto qualquer com problemas de espaço para roupas e souvenires, eu e a Sandra estávamos a tentar descobrir como se ia do aeroporto para o hotel, o Mário estava cheio de fome e só queria comer e o Diogo cheio de sono e precisava de ir à casa de banho! “Drama, drama, drama!” até a dormir!
Saímos do “hotel”, depois de tomar o pequeno almoço que estava incluído na módica quantia de $28, que nem $10 valia (com direito a um ovo cozido há quanto tempo (?), meia pêra abacate, pão de forma, manteiga, café em pó e leite evaporado – uma espécie de natas com sabor a leite condensado). O dono do hotel explicou-nos algumas coisas sobre Lima mas confesso que estava com tanto sono que não ouvi absolutamente nada!
Já no aeroporto, fizemos o check in, aguentámos mais uma série de filas e embarcámos no vôo de 03h35 que nos vai levar até Santiago, onde nos vamos encontrar com o Mário e a Sandra no hotel, para iniciarmos a nossa aventura!
Explora a nossa viagem à Bolívia!
SANTIAGO DO CHILE
Depois do almoço voltamos ao hotel para irmos ter com os nossos parceiros de viagem. Quando chegámos lá, eles estavam na piscina do hotel, muito relaxados a trincar umas sandes e a beber uma cerveja. Tinham comprado uma garrafa de vinho tinto para festejarmos o início da nossa viagem. Abrimos a garrafa e sentamo-nos na esplanada do hotel a conversar e a contar as nossas histórias. Trocamos umas ideias e traçamos planos de ataque dos próximos dias e fomos jantar ao bairro Lastarria. Escolhemos um de carnes grelhadas e comemos uma parrilhada!
O Uber aqui funciona muito mal e começámos a reparar que há uma tentativa de trafulhice entre o Uber (que não é legal no Chile) e os taxistas normais. Passo a explicar. Nós chamámos o Uber no aeroporto e como sempre vemos a localização dele no mapa, certo? O problema é que ele não sai do sítio e acabámos por não entender o que se passa… se ele está no trânsito, nos semáforos ou se não sabe onde nós estamos. Esperamos cerca de 20 minutos até cancelarmos e chamarmos outro. Aconteceu o mesmo! O Diogo, já furioso, vai a correr até ao sítio onde o carro estava, que não era longe, para lhe dar uma descasca! Eu fiquei na entrada do aeroporto com as malas, não fosse ele aparecer.
Quando o Diogo chegou ao sítio preciso onde estava o carro, não encontrou carro nenhum. Entretanto, chega um fulano ao pé de mim e pergunta se estávamos à espera do Uber. Eu disse que sim, sem dar muita treta. Ele disse que o Uber não é legal no Chile e que por isso funciona muito mal, mas se quiséssemos ele levava-nos ao hotel pelo mesmo preço que dizia na aplicação. Entretanto chega o Diogo a dizer que o carro não estava no sítio assinalado e o fulano diz que há motoristas que não aparecem para ganhar a taxa de cancelamento. Acabámos por ir com o tipo, que se mostrou muito simpático e partilhou o wi-fi dele connosco para podermos avisar a Sandra e o Mário do que tinha acontecido, porque nisto tudo perdemos mais de uma hora
Mas ao jantar decidimos voltar a experimentar a aplicação e funcionou direitinho! Fomos e viemos de Uber de e para Lastarria. Ao chegarmos ao hotel acabámos com a garrafa de vinho e fomos dormir.
No dia seguinte, acordámos às 8h para tomar um rico pequeno almoço de hotel para partirmos para São Pedro de Atacama, no voo das 13h. O voo foi tranquilo com paisagens tão bonitas como inóspitas! Quando aterrámos já tínhamos um transfer à nossa espera para nos levar ao “hotel”.
Uma resposta
Olá tudo bem? Espero que sim 🙂
Adorei seu artigo,muito bom mesmo!
Abraços e continue assim.