Chicago

Novembro 2017

Let the games begin

É um luxo para nós acordar às 8h00 da manhã no dia em que damos início à nossa viagem. Normalmente escolhemos sempre voos que partem logo de manhã cedo ou até de madrugada, o que nos obriga a acordar muito cedo para iniciar os trabalhos. Hoje acordámos às 8h00, com muita calma (note-se que estamos a 10minutos do aeroporto), tratámos dos últimos pormenores, tomámos o pequeno-almoço e chamámos o Uber.

Na meteorologia diz que hoje em Chicago vão estar 0 graus de máxima e -8 de mínima… Em Leça vão estar 20… ainda bem que vesti as minhas meias calças polares por baixo das calças de ganga e calcei as botas de neve! Vamos bem preparados para Chicago: enchouriçados em roupa quente e com tudo bem planeado (graças à Becas, filha do Luxúria Canibal, que me mandou um plano super completo de Chicago, onde ela já morou vários anos). “Preparem-se para o frio!”, disse ela e nós cumprimos bem as ordens!

Chegámos mesmo a tempo de entrar no avião para Dublin, num voo da Ryanair, onde nem sequer temos lugares juntos. Eu fui ao lado de uma miúda de 20 e tal anos, que dormiu o voo quase todo, e uma senhora com os seus 70 anos, que sempre que o avião abanava procurava no meu rosto alguma espécie de conforto. “Está tudo bem, não é grave!”, era o que se podia ler no meu rosto, super descontraído, enquanto jogava solitário e sudoku. Acabou por adormecer depois de fazer o sinal da cruz e beijar os dedos. “Oh nossa…” Sabíamos que íamos ter um tempo muito curto de escala em Dublin (1h40), principalmente sabendo que teríamos ainda de enfrentar as filas do boarding dos USA. O Toby (o nosso amigo hospedeiro que esteve connosco recentemente) deu-nos todas as informações que ele tinha do aeroporto de Dublin e disse que ia ser apertado, mas que se não tivéssemos contratempos, não haveria problema.

Mal o avião aterrou, desatámos numa correria para fazer o check in na Norwegian Airlines. “Excuse me!”, “Sorry!”, “May I pass, please!” foram as nossas primeiras palavras em inglês. A correr pelos corredores, fomos passando as várias pessoas até chegarmos à primeira fila para termos acesso à mudança de terminal. Com umas 200 pessoas à frente (e a suar que nem cavalos – lembram-se das minhas meias calças polares?!), começámos a entrar em stress, sem sabermos quantas mais filas encontraríamos pela frente.

Lá passámos a primeira, depois de pedirmos informação à guarda gordinha de cabelo cor de laranja, vestida à “segurança do shopping” para onde nos tínhamos de dirigir após a passagem no passport control. Ela lá nos disse que tínhamos de virar à direita, subir as escadas, virar à esquerda, sair do edifício e seguir as placas que dissessem terminal 2. Estávamos no terminal 1. Mais uma corrida! Fizemos o percurso certo para chegarmos ao terminal 2 e vermos escrito que a Norwegian Airlines era no terminal 1!! Beeeeem… vira e começa a correr na direção oposta! De volta ao terminal 1, um guarda disse-nos que a Norwegian Airlines para voos na Europa era no terminal 1 mas (!!!!) que para voos para os Estados Unidos era no terminal 2. “Whaaat??” Não acredito! Vira e COOORRRRRE (de novo!) para o terminal 2.

Eu, com o meu ar mais doce e com um please gigante estampado no rosto, ainda perguntei se não havia um carrinho que nos levasse lá mais rápido. O guarda nem me respondeu… eu toda suava, com uma mala de 7,6kg, um casaco de neve vermelho, a camisola preta à cinta e mais a mala do computador com 2,5kg. E não se esqueçam das meias calças polares! Lá chegámos ao check in e pedimos os bilhetes. Só me lembrava das palavras do Toby “se não tiverem contratempos, corre tudo bem”…

A senhora do check in disse que tínhamos 20 minutos para embarcar e avisou que devíamos ir diretos sem parar para nada. Siga Micas até à próxima fila para entrar nos USA. Mais um controlo de passaporte e security check e passámos para a alfândega americana onde nos perguntaram de onde vínhamos, para onde íamos, se estávamos de férias, o que fazíamos em Portugal e por quanto tempo íamos ficar. Scan dos 4 dedos, scan do polegar, tira foto e próximo!

Quando chegamos à porta 423 para embarcar para Providence, por breves segundos (e por falta de vista para a caixa de boarding que estava escondida) pensei que o avião já tinha partido, mas lá estava o hospedeiro para receber o nosso bilhete e nos deixar entrar. Fomos os últimos a entrar no avião 737, sem filmes, com cadeiras quase sem estofo, para uma viagem de 7h00. O que vale é que ia praticamente vazio. Mas mesmo com imensas cadeiras disponíveis, conseguiram concentrar todas as pessoas no meio do avião! Mais uma vez ficámos em cima da asa. O problema é que foi aqui que descobrimos que nem sequer íamos ter direito a um almocinho! Um voo de 7h00, sem filmes, sem comida e com bancos duros… “não vai correr bem!” Ainda por cima, estávamos mesmo na hora de almoço (13h00) e com a barriga a roncar! Mal o avião levantou e o sinal dos cintos de segurança se desligou, chamamos uma hospedeira para reservar comida para nós e ela disse que não podia reservar, que tínhamos de esperar +- 30 minutos até que começassem a servir a comida. Lá terá de ser…

Fui à casa de banho e quando estava à espera que as portas fossem desbloqueadas, ouço a hospedeira a contar à outra colega que nós a tínhamos chamado para reservar comida e a rir-se da nossa cara, chamando-nos de idiotas… fiz questão que ela me visse pelas cortinas que estavam entreabertas. Ela ficou vermelha que nem um tomate e mudou de assunto. Eu continuei à espera e foi aí que a “idiota” se lembrou que ainda não tinha desbloqueado as portas das casas de banho. Veio cá fora e pediu-me desculpa, ainda com as bochechas bem vermelhas. Nem sei bem o motivo do pedido de desculpa dela, se pelas portas bloqueadas ou pelo comentário foleiro que fez à colega de trabalho. Ignorei e vim para o meu sítio para contar ao Diogo que já dormia.

Quando passou a comida, pedimos tudo a que tínhamos direito: uma sandes fria de frango, um croissant de queijo e fiambre quentinha, uma embalagem de cajus, um muffin de chocolate e uma coca cola. Não se enganem: cada coisa foi um para cada um! A fome é negra! O medo de a meio do voo nos dar fome e não termos nada para escolher, fez-nos gastar $46 em comida de caca, porque o hospedeiro simpático nos disse que não tinham muita coisa para além da comida que já tinha sido requisitada. Já bem abastecido, o Diogo adormeceu e eu quando me preparava para adormecer vi que o Diogo estava a fazer caras estranhas e comecei a filma-lo! As pessoas à volta olhavam com atenção e sorriam. Escusado será dizer que já não dormi mais nada. Só galhofa! Quando ele acordou mostrei-lhe os vídeos. Foi uma risota só! Ouvimos o hospedeiro dizer que íamos aterrar daí a 1h20 e começamos a fazer contas às horas para chegarmos à conclusão que estávamos atrasados 35 minutos para ima escala nos Estados Unidos de 1h! Oh não! De novo não… Lá vamos nós ter de correr outra vez!

Por sugestão da hospedeira, passamos para uns lugares mesmo lá à frente para sermos os primeiros a sair do avião e correr para a porta de embarque para Newark, que ninguém nos sabia dizer qual era. Sugeriram que tentássemos fazer o check in na porta de embarque e se não nos deixassem, aí sim teríamos de sair, fazer o check in e voltar a entrar. Aí seria praticamente impossível apanharmos o avião! Disseram-nos que o aeroporto de Providence era super pequeno, o que nos facilitaria a vida. Para complicar ainda mais a nossa vida, o avião atrasou-se mais 10 minutos deixando-nos com apenas 20 minutos até que o avião levantasse voo, sendo que normalmente o balcão do check in fecha 30 minutos antes da descolagem assim como a porta de embarque. Lembrei-me das sábias palavras da Anabelinha “Força, foco e fé! É o segredo!” e queríamos acreditar que um milagre ia ser possível. Mal o avião parou, saltámos dos nossos lugares e quando a porta abriu partimos para mais um sprint! Porcaria das meias calças polares por baixo das calças de ganga!!!! Nunca tive tanto calor nem nunca suei tanto na vida…

Procurámos a TV onde se vê as portas de embarque, já sem fôlego, e vimos que o nosso voo para Newark estava ATRASADO 45min!!! YEAAAAAAHHHH!!! Bé, quase ouvi a tua voz “É o segredo! Força, foco e fé!!!” Lá abrandámos o passo de corrida para passo rápido porque ainda não sabíamos se nos fariam o check in na porta de embarque. Quando o senhor nos disse que sim, quase desmaiei de alegria! “Força, foco e fé!” Fomos jantar um hambúrguer típico dos USA e relaxar um bocadinho para recuperar forças. O voo para Newark atrasou mais 20 minutos, mas nós em Newark tínhamos mais 2h30 para passar. Embarcámos num avião bem melhor do que o anterior, apesar do anterior ser um voo de longo curso e este ir demorar apenas 30 minutos…

Vimos NY de cima, a estátua da liberdade, o novo edifício de homenagem ao 9/11 e como já é noite, aquelas luzes todas acesas, com os arranha céus gigantes! Já me tinha esquecido de como NY é linda de morrer! Ver esta cidade de cima é maravilhoso! Temos de voltar cá em breve… O aeroporto de Newark está com uma qualidade… espaços abertos, cheios de design, luzes, super bem decorado, cheio de pinta e com restaurantes com tão bom aspeto que nos fez arrepender de termos comido o hambúrguer em Providence!

Demos uma voltinha pelas “ruas” do aeroporto a tirar fotos a tudo, pusemos o telemóvel a carregar baterias e algum tempo depois fomos para a porta de embarque. Quando chegámos ao nosso lugar no avião, aterramos direto! Dormimos os dois a viagem toda (2h30). À chegada a Chicago chamamos um Uber partilhado com mais 2 pessoas, ele bêbedo como um cacho a tresandar a álcool por todos os poros e ela tinha acabado de chegar da sua viagem à Europa, sóbria! Pediu desculpa pelo amigo, conversamos sobre o Porto que ela adorou e despedimo-nos. O hotel Travelodge não é grande espingarda, é caro para o que é, não tem pequeno almoço mas dá para o gasto. Aqui já são 2h00 da manhã, vamos dormir para amanhã andar por uma Chicago coberta de neve!

Snow Motion

Depois de uma noite de sono pesado, para recuperar dos fusos horários e de todos os sprints nos aeroportos, saímos do hotel bem ensacados em roupa de inverno, para conhecer Chicago. O plano da Becas ia ser posto em curso: Cloud Gate (o “feijão” espelhado), a Magnificent Mile (com os seus arranha céus, lojas, galerias de arte, o Wrigley Building, Trump Bulding e a Hancock Tower com a vista 360 graus da cidade com 96 andares a terminar no Lincoln Park (o Central Park de Chicago). Uma avenida ladeada por edifícios verticais de perder de vista, espelhados ou de pedra, da última geração ou da idade dos nossos tetra avós, pretos ou cheios de luzes.

Depois de sairmos do hotel vimos logo a cidade coberta de neve. Branquinha branquinha! Claro que fomos logo calcar, tocar e atirar neve um ao outro. Como putos felizes que somos! Fomos caminhando em direção à Cloud Gate e foi quando a vimos que soubemos que estávamos mesmo em Chicago! É uma maravilhosa (e enorme!) escultura espelhada que, por ser redonda em vários ângulos e direções, distorce a imagem e reflete os edifícios e árvores à volta. Juntamente com outras centenas de pessoas, lá fizemos a nossa sessão fotográfica, com direito aos nossos clássicos e famosos saltos, “of course”! Seguimos caminho para a Magnificent Mile, passando o rio por uma das inúmeras pontes de ferro. Vimos a Apple Store e entrámos para nos aquecermos. Sentamos os rabos na escadaria almofadada com uma vista incrível para o rio, com uma TV enorme a passar fotos absolutamente maravilhosas da cidade.

Primeiro passo? Ir à net para partilharmos convosco as nossas fotos! Depois dos rabos, joelhos, mãos, queixos e narizes já quentes, voltámos à carga. Aqui começa a Magnificent Mile. A seguir à Apple, encontrámos o restaurante do Michael Jordan e logo a seguir uma loja de rebuçados, gomas, chupas e chocolates. Tudo cheio de cor, cheiros e sabores que nos faziam salivar a cada passo. Os doces mais engraçados foram os dos unicórnios, até vendiam cocó de unicórnio! Escusado será dizer que é muito bom, sendo feito de peta zetas coloridas que explodem dentro da boca! Fugimos antes que engordássemos 2kgs só de olhar! Mais à frente entrámos na Disney, na Nike e na North Face onde vimos casacos e calças de neve super giras. Sapatos impermeáveis super confortáveis e mochilas e sacos muito bons! Zara, H&M, Victoria Secret, Tiffany, Gucci, Missoni, Botega Veneta, Michael Kors e a loja mais bonita em que alguma vez entrei – a Ralph Lauren!

Se a loja estivesse vazia, só pelo espaço em si, já era linda de morrer, com paredes em madeira, escadarias brutais com molduras pesadas de pessoas muito bem vestidas, cortinas pesadas de veludo, com tectos trabalhados em madeira e pinturas a óleo, com balcões de atendimento tipo joalharia requintada, com uma panóplia de tecidos à escolha para fazermos o nosso fato “custom made” por alfaiates vestidos a rigor, à nossa medida e gosto, mas com o melhor aconselhamento disponível. Uma loja de 4 andares dividida por homens, mulheres, crianças e no último andar, casa e bebés. A melhor parte? A parte da decoração de casa, claro! Ambientes tão perfeitos que eu até me esqueci de tirar fotos… estava extasiada com tanta perfeição! Tudo com pormenores de peças antigas e vintage, texturas diferentes e cores sóbrias pastel. Ambientes brancos e cinza claros, brancos e dourados com marfim, ambientes pretos com dourados e peles. Tabuleiros de jogo antigos, peças de valor inestimável, molduras em pedra, relógios antigos de mesa e de parede, livros de carros clássicos antigos e almofadas de veludo, pelos e fazenda…

No piso da roupa de mulher, vi uma saia de tule preta comprida que custava $4.990 e estive quase a trazer uma de cada cor! Uma camisa de smoking para mulher (que amei!) que custava $790… assim não vai dar! Só na Ralph Lauren perdemos quase 1h. Morava ali fácil e seria muito feliz sem precisar da roupa! O conforto visual e físico dos espaços até me emocionaram. Identifiquei-me em cada canto e recanto, sala e corredor, escadas e elevadores, tanto como pessoa como profissional da área. Saímos da loja de coração cheio e a alma mais rica para irmos almoçar ao Eataly, um mercado italiano com venda de artigos gourmet, incluindo pastas, risottos, cogumelos, vinhos, queijos, enchidos, gelados, pães, frutas, legumes e marisco. Claro está que estava à pinha de gente e a fila para nos sentarmos a almoçar tinha um tempo aproximado de 1h de espera, mesmo já sendo 14h15. Reservamos mesa para daí a 1h e fomos até à praça dos vinhos para irmos aquecendo o espírito esfomeado. Pareceu-nos que a praça dos vinhos facilmente estava pior do que a das pastas e decidimos aguardar que alguém saísse de alguma mesa. Foi então que um grupo simpático se começou a levantar e eu perguntei se iam deixar a mesa disponível e eles disseram que sim mas que já estava um casal à espera, casal esse, de +- 60 anos, que disse imediatamente que não se importavam de partilhar a mesa connosco. Maravilha!!

Pedimos um copo de vinho rose para cada um e sentamo-nos à mesa com eles. Falamos sobre o nosso destino e percurso de férias e sobre o que cada um dos presentes fazia da vida e o motivo de estarmos ali. O Jim deu algumas sugestões de restaurantes, clubs e pubs para hoje à noite e rapidamente chegou a hora de irmos para a nossa mesa. Despedimo-nos e desejámos “all the best” mutuamente. Escolhemos a comida, eu pizza “custom made” de búfala, cogumelos e rúcula e o Diogo uma massa al dente com ragú e queijo. Devorámos tudo em tempo record. A fome aperta por estes lados! Saímos e fomos caminhando em direção ao hotel, já com o sol a pôr-se, percorrendo uma avenida paralela à Magnificent Mile onde vimos o metro, o Chicago Theatre (onde foi filmado o filme com o mesmo nome, com a René Zelwegger, a Catherine Zeta Jones e o Richard Gere) e a Urban Outfitters. Ainda vimos uma sessão fotográfica de um casamento no meio do trânsito com a noiva só de vestido já com o sol para lá de posto… Só de a ver já arrepiava a espinha! Amanhã está doente e não me parece fácil que consiga ir de lua de mel.

Nós estávamos todos enchouriçados e estávamos cheios de frio… imagina ela só de vestido branco e com os seus sapatinhos azuis Manolo Blanik ao estilo Carrie Bradshaw! Mas que as fotos ficaram bem, disso tenho eu a certeza! A neve, as luzes, os arranha céus, os táxis e eles enamorados com olhares apaixonados e a dançar o slow no meio da rua… SUPER ROMÂNTICO! Temos de admitir! Apesar de estar um frio do catano, com mãos a gelar quando as tiramos dos bolsos para tirar fotos, o nariz e queixo completamente congelados que até doem a falar e nos prende os movimentos dos lábios, a cidade é linda nesta altura do ano, com o contraste da neve nos edifícios frios e rudes a rasgar o céu, as árvores pintadas de branco e as tradicionais cores de fogo do outono, os carros dos bombeiros que percorrem as ruas com luzes e sirenes a toda a hora, o rio de cor verde musgo que reflete os edifícios e as luzes da cidade, com o metro a passar por cima das nossas cabeças nas estruturas enferrujadas, o sotaque americano à filme, a simpatia fora de série das pessoas e a conjugação dos blues com a máfia italiana, fazem de Chicago uma cidade para nos perdermos e para tirar fotos incríveis!

Voltámos ao hotel para recuperar forças (e dormir uma soneca de 3h) para irmos jantar um bife do lombo grelhado acompanhado de um mojito a um pub chamado Rock Bottom, onde passava basebol na TV, para de seguida irmos ao House of Blues ver um show de Blues e beber um copito, visto hoje ser a Saturday Night Fever! Acabámos a noite na Public House a ouvir hip hop e a ver os teens a beber, a dançar e a praticar os seus dotes de engate na sua apoteose máxima. Amanhã há mais Chicago, em versão “snow motion”! (Esperamos que não chova…)

Singing in the rain

Como já prevíamos, o dia de hoje foi bastante chuvoso, o que prejudicou os nossos planos. Passear à chuva é coisa que não nos assiste e muito menos ficarmos molhados com frio e vento. Os nossos planos passavam por:

  1. ir até ao edifício mais alto de Chicago com 108 andares, a Willis Tower, onde o último piso foi todo construído em vidro e onde imensa gente faz sessões fotográficas pelas vistas sem obstáculos.
  2. fazer o riverwalk todo, ao longo do rio, tirando fotos aos arranha céus.
  3. ir ao navy pier para ver a roda gigante e o lago Michigan.
  4. comer um hambúrguer no famoso Billy Goat Tavern.
  5. ir ao Lincoln Park. 6 – comer a típica Deep Pizza no Gino’s East.

Mas quando saímos do hotel chovia tanto que tivemos de repensar a nossa estratégia de ataque! Então fomos tomar o pequeno almoço perto do hotel e quando lá chegámos já estávamos todos molhados… demoramos o máximo de tempo que conseguimos, até acharmos que já estávamos a perder tempo e fomos em direção ao metro para comprarmos bilhetes para nos deslocarmos dessa forma sempre que fosse possível. Como o metro anda acima das ruas, tínhamos uma vista diferente e decidimos apostar nisso, achando uma boa solução para os nossos problemas. Compramos um bilhete para o dia inteiro que já dava também para ir até ao aeroporto. O mais curioso é que um bilhete único de 2 viagens, fica logo mais caro do que um bilhete diário que dá para ir até o aeroporto que fica a 1h de distância.

Reparámos também que Chicago, como a maior parte das cidades norte americanas, tem imensos sem-abrigo. O que nos chocou é que Chicago é muito frio para dormir ao relento, com neve, chuva e vento. Nem sei como é que esta gente sobrevive… no metro entram e saem pessoas que vão lá pedir trocos para poderem dormir num sítio abrigado e seguro. E quando pedem trocos, estão mesmo a pedir trocos, moedas pequenas são muito bem-vindas e não fazem cara feia quando lhes entregam 5 cêntimos. É assustador como é que as pessoas atingem tamanha miséria.

Um dos homens que entrou no metro, tinha uns 30 anos, estava todo sujo e cheio de feridas na cara do frio, barba por fazer, cabelo sujo e com uma caixa com uma pizza lá dentro. Quando entrou na carruagem, pediu a atenção de todos por uns breves momentos e de uma forma sempre educada, pediu dinheiro para poder dormir num hotel ou motel (não percebi bem) e disse que já tinha 14 dólares mas que ainda precisava de 4 dólares para poder comprar o quarto para aquela noite. Uma miúda deu-lhe todas as moedas que tinha no bolso, mas eram apenas cêntimos e ela pediu desculpa por não ter mais e ele agradeceu gentilmente o gesto dela, que já era uma grande ajuda.

Aquilo pôs-me o coração tão pequenino que se pudesse dava-lhe 20 dólares, mas tivemos receio de tirar a carteira para fora e sermos roubados. Coitadas destas pessoas que vivem apenas para sobreviver cada dia, vivendo um dia de cada vez. Amanhã, logo se verá o que acontece! Entretanto, viu um conhecido dele, também sem abrigo e foi ter com ele e partilhou com ele uma fatia do pouco que já tinha. Esta é uma realidade que nós em Portugal não temos acesso, graças a Deus! Os nossos sem abrigo são poucos e temos a sensação, muitas vezes errada, que pedem dinheiro para álcool, por não quererem trabalhar ou por ganharem mais dessa forma. Aqui nota-se logo que não é o caso. A generosidade dele em partilhar a pizza com outro necessitado e a delicadeza deste homem a pedir qualquer moedinha, afetou-me imenso. Fiquei a pensar nele e em todos os outros que dormem ao relento nestas condições, por más opções de vida, por falta de oportunidades ou por azares e que acabam por morrer ao frio e à fome.

Lembrei-me do filme do Will Smith, que retrata esta realidade tão bem – The Pursuit of Happiness. Nota-se logo a diferença entre os que pedem dinheiro para comer e para dormir dos que pedem para álcool ou drogas. Estes últimos andam pedrados e tresandam a álcool. Quase não conseguem falar e têm imensos tiques nervosos. Entraram dois no comboio e nem falaram. Sentaram-se com o olhar vidrado e colado no chão, com a cabeça encostada na parede do comboio. Um deles chegou a cair e meteu o pé entre o comboio e o chão da estação, magoando-se. Só dizia palavrões e amaldiçoava o destino dele…

Quando chegámos à Willis Tower, chovia imenso e entrámos para saber quanto se pagava para subir ao 108º piso e disseram-nos que custava $23. Nem pensar! Já tínhamos visto Chicago de cima no Hankock Building, não valia a pena. Saímos e um casal veio-nos pedir dinheiro para comer… oh pá… isto é muito difícil de presenciar… dissemos que não podíamos e seguimos caminho para o Riverwalk.

Agora chovia a sério e tivemos de nos abrigar uma série de vezes! Quando chegámos ao Riverwalk, fomos nos abrigando por baixo das arcadas que lá haviam e decidimos mudar de plano, optando por ir até à Apple Store para nos abrigarmos até parar de chover. Quando lá entrámos, o calorzinho do interior da loja, arrepiou-nos a pele toda do corpo. Que confortável!!! Refizemos o nosso percurso no Google maps e decidimos que íamos comer o hambúrguer no tradicional Billy Goat Tavern, que era a meia dúzia de passos dali e esperar lá que parasse de chover. Assim o fizemos. Quando chegámos ao Billy, vimos que era um típico “diner” americano, ao estilo dos anos 50, onde só havia 3 tipos de hamburgueres: o borger, o double cheezborger e o triple cheezborger! Depois havia um hot dog e batatas fritas de pacote. O chef cita uma frase sempre que põe um “borger” no grelhador: “cheezborger, cheezborger, no fries, just chips, no pepsi coke!” E sim, é tradicional e típico de Chicago, mas um Mac é francamente melhor, apesar deste ser bem mais saudável.

Saímos e começamos o nosso percurso até ao Navy Pier, mas ainda chovia tanto que decidimos entrar no AMC para vermos um filme num cinema aqui! Até a porcaria dos bilhetes de cinema são caros! Cada bilhete custou $12 já com impostos, que são sempre cobrados à parte. Fomos ver o “Murder on the Orient Express”, com o Johnny Depp, a Michelle Pfeiffer, a Penelope Cruz, Judi Dench e William Dafoe. Tinha tudo para ser um filme top, só que não! Era do Poirot… foi muito básico. Mas deu para entender que os americanos não  respeitam o silêncio nas salas de cinema e riem-se como se estivessem sozinhos em casa e comentam tudo naturalmente. Enfim… Tivemos de sair mais cedo do filme, para irmos ao hotel buscar as malas e irmos para o aeroporto, ou seja, nem fiquei a saber quem matou quem! 

Quando chegámos ao aeroporto, fomos jantar uma pizza e entrámos no avião para dormir o caminho todo (1h30) até Columbus.

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