Caminhamos no meio rua, expostos, sob o olhar atento de todos os que nos rodeiam. Sentimos a pressão dos olhares pelo canto do olho. É impossível misturar-nos com a população, eles reconhecem-nos. Para lá do que alguma vez poderia imaginar, estamos em Bagdad.
Pensei sempre que seria possível ir ao Curdistão iraquiano mas que o sul do território não seria acessível nos próximos anos. É um sonho antigo, finalmente tornado realidade.
Iraque é a terra das Mil e uma Noites, dos poetas, dos oásis perdidos no deserto, do início da humanidade entre o rio Tigre e o Eufrates.
Mas onde está esse Iraque? Parece perdido no meio dos edifícios destruídos, das marcas das balas nas paredes, dos carros blindados e soldados armados até aos dentes a cada esquina. Mas está cá. Está no olhar profundo das pessoas, na sua generosidade e bondade.
Na rua oferecem-nos pão, doces. Queremos pagar, não deixam. Dizem, “Se cobrassemos, o que iriam dizer sobre nós, no estrangeiro?“
Estão felizes por nos verem, por poderem mostrar os seus produtos, o seu país.
São 8h da manhã, o calor sufocante na rua já se aproxima dos 40 graus. O pesado ar quente entra a custo e os olhos ardem de tão secos. Hoje os termómetros passarão os 50 graus à sombra, um Verão típico para estes lados.
Caminhamos descontraídos, a sensação de segurança desmonta-nos. Acabamos de chegar e já caminhamos livremente pelas ruas de Bagdad.
Não era suposto andarmos com um colete anti bala? Deixamo-nos levar pelo instinto. Não estávamos à espera de encontrar tanto afeto no meio do caos e dos escombros, livrarias, lojas de pássaros, os cafés tradicionais onde os locais se sentam a beber o seu chá de menta e a fumar shisha, os sorrisos, a vontade de falar connosco, a bondade. Os rostos marcados pelo sol sorriem. O árabe ecoa pelas ruas.
Hoje é dia de descanso, temos a oportunidade de evitar o caos do tráfego da cidade. Vermelhos e sentidos não são importantes, podemos estacionar literalmente em todo o lado.
Falar ao telemóvel é permitido. O carro fica aberto e ligado, é seguro.
As palmeiras distribuídas pela planície amaciam o betão rude e desordenado. Conseguimos imaginar o oásis que outrora existiu, verde e fresco no meio do deserto.
Alguns dos pontos emblemáticos da cidade estão inacessíveis na zona verde, onde se escondem os americanos por de trás das lajes verticais de betão com arame farpado, protegidos pelos soldados e tanques da intensidade e do caos.
Bem-vindos a Bagdad!