Foi com um nariz sofrido e pele mastigada pela máscara FFP2 que aterramos na Cidade da Guatemala. Pela janela oval, os vulcões erguem-se entre nuvens, como vultos de tom azulado.
Agora as regras mudaram. As hospedeiras de bordo pedem com gentileza que os passageiros apenas se levantem unicamente após a fila da frente ter saído e para respeitar a distância de segurança. Mas caiu em ouvidos de mercador. Mal se ouve o sinal dos cintos, toda a gente se levanta, ficando tudo à monte… de máscaras, mas a monte. Burro velho não aprende.
Depois de irmos buscar o carro começamos a sentir o país através das músicas típicas latinas que nos acompanham na viagem até Antígua, com o clássico batuque executado pelas nossas mãos aqui e acolá, algures numa superfície do nosso corpo ou do carro. A viagem demora cerca de 45 minutos e temos os vulcões sempre ao nosso lado.
A chegada a Antígua nasce de um UAU gigante e de olhos colados no exterior do carro vamos soltando sons de êxtase, excitados por termos chegado. Ruas de calçada onde é difícil caminhar, fachadas de casas antigas desgastadas pelo tempo, onde se vive “despacito” com vista para três vulcões, um em atividade constante. Uma cidade povoada de armazéns de café, restaurantes e bares com pátios interiores onde se bebem shots de tequila ou mezcal… ou pelo menos nós bebemos.
Quando olhamos para o 5° gomo do limão que repousa em cima do estreito e alto copo do líquido transparente, já o riso corre solto, nascem piadas sem graça e o swag faz-se sentir da ponta dos pés até aos ombros que balançam ao ritmo da música que ecoa pelo pátio… “tabaco y rom” da série Narcos acompanha este shot e permanece nas nossas cabeças o resto do dia, enquanto vamos cumprimentando com um eventual “buenas!” ou um “Hola, que tal?” aos guatemaltecos de roupas tradicionais que vão passando por nós.
Pessoas simples, de poucas posses, roupas gastas, mas coloridas, de sorriso no rosto, carregam tábuas cheias de colares, brincos, pulseiras, mantas, lenços, bolsas e as atuais e exigidas máscaras para o covid que tentam vender afincadamente.
Passamos o dia a saltar de bar em bar, de armazém em armazém, sempre com o dedo no botão da máquina que carregamos com prazer e que nos vai ajudar a relembrar pormenores que eventualmente nos vamos esquecer.
Com o corpo cansado e alma feliz, fomos para a cama cedo, enquanto sonhávamos com a nossa próxima paragem – o lago Atitlan.