Andaman

Novembro 2016

The Princess of India

Foi com algum receio que chegámos às Andaman. O hotel que tínhamos reservado (e pago) tinha nos avisado por mail que eram um Eco-Hotel, elaborado especialmente para turistas de mochila às costas que não se importassem de dormir no meio da natureza. Nós na altura marcámos este porque era o único que estava disponível porque aqui a menina não é nada dada a natureza e a baratas! Mosquitos e baratas nem pensar! Estávamos fartos deles de Kerala e não queríamos nem ouvir falar de mosquitos!

Tivemos de fazer a travessia desde Port-Blair, a capital das Andaman, até Havelock Island de ferry boat. Para quem quiser visitar estas ilhas, há uma série de informação bastante importante a reter. Primeiro, escolham um voo que chegue a Port-Blair antes das 10h30 da manhã, porque senão já não apanham o ferry para a ilha. Se pretenderem ir para Neil Island (uma ilha mais pequena a sul de Havelock), esqueçam! Só com reservas feitas com 24h de antecedência, o que significa passar uma noite na capital, onde nada há para ver ou fazer.

À vinda, tentem marcar o voo exatamente ao contrário – o mais tarde possível! Para conseguirem ir no ferry das 10h00 da manhã e ainda terem tempo de chegar ao aeroporto, fazer o check-in e não correr riscos de perder o avião. Existem 2 tipos de ferrys, o governamental e um privado. Claro, o privado é mais caro, tem mais horários e demora o mesmo tempo a chegar lá, e o governamental apenas tem dois horários por dia, um às 8h30 e outro às 14h00. Marcar no próprio dia no barco do governo é um golpe de sorte e custa cerca de 450Rup.

Habitualmente as pessoas ficam retidas em Port Blair porque é recomendado marcar com vários dias de antecedência. Por esse motivo tivemos que ir no privado (900Rup). Havia 3 categorias de viagem: Executiva, Luxury e Royal!! Na India o Deluxe, o Luxury, o Royal e outros adjetivos como estes são assustadores e nada relacionados com a expectativa gerada. Nunca vimos os termos basic ou economic mas varias vezes nos deparamos com serviços luxury que na Europa é vista como básico ou mesmo muito fraco. Nós escolhemos a mais básica e mais barata e ficamos curiosos com o que vinha, apesar de viajarmos em Executiva! 🙂

Mal chegamos ao barco enviaram-nos para o porão num local sem janelas e virados para a parede, com uns bancos completamente destruídos! Passados 10 minutos um dos membros da tripulação passou toda a gente que estava na classe executiva para a classe Luxury! Subimos um andar e já tínhamos janelas e direito a uns bancos igualmente partidos e desgastados com uns números escritos a esferográfica na cabeceira que identificava o respetivo assento. Mas o pior estava para vir… O barco estava cheio de baratas! Várias vezes tivemos que levantar as pernas para nos desviarmos do seu trajeto… Pure Luxury Indian Style!

Começamos a avistar a ilha de Havelock e é extremamente verde e mal chegámos vieram logo os “mosquitos” indianos para vender viagens de riquexó até ao hotel. Eu vi uma miúda rodeada de indianos e desejei-lhe um “boa sorte” e ela colou-se logo a nós e perguntou para onde íamos e veio connosco até ao hotel para ver se tinham quartos vagos.

Quando chegámos ao hotel, parecia ser muito porreiro, ao estilo Crusoé ou ao estilo do filme “A Lagoa Azul”, com os quartos metidos nas árvores, de dois andares e, imaginem só, completamente abertos. Não havia maneira de fugirmos aos mosquitos e ali íamos ser comidos vivos! Não tenho dúvidas que o hotel é muito bonito, mas não para dá para nós. Apesar de já termos tudo pago e de não haver reembolso, acabámos por mudar para o hotel ao lado chamado “Coral Reef” que é bastante superior. Aqui fazem fomigações, têm janelas nos quartos e as paredes são de cimento e não de canas de bambu. “We will take it, Sir!” e assim foi.

Fomos procurar as escolas de mergulho e marcámos tudo e viemos felizes da vida para o quarto para dormir. Até chegarmos ao quarto e vermos uma barata gigante (mas gigante mesmo!) dentro do quarto. MERDA! O meu maior pesadelo tornado realidade, e ainda por cima no hotel mais caro. O empregado lá matou a barata, limpou e saiu. Para esquecer fomos tomar um banho e metemo-nos na cama para esquecer, depois de matar 2 ou 3 mosquitos que teimaram em ficar por aqui.

Conquilhas à vista

O dia de hoje começou de forma muito relaxada, sem despertador e sem horas para ir a lado nenhum. Os mergulhos só começam amanhã, porque hoje os barcos já estavam completos e não havia espaço para nós. Vamos fazer 5 dias de mergulhos, 2 por dia. Por isso, hoje decidimos descansar e relaxar na praia. Claro que nós não sabemos estar quietos, pelo que mal chegámos à praia, experimentámos a temperatura da água e fomos fazer uma caminhada ao longo do areal.

A temperatura da água, na minha opinião, é a melhor deste mundo! 32 graus de caldinho para eu relaxar, sem arrepios, sem correntes frias, apenas eu e a água. Que paraíso! A primeira coisa que pensei foi que se Leça tivesse esta água, eu morava no paraíso!

Fomos caminhar e encontrámos uns bichinhos que fazem buracos na areia para se esconderem e ao tirarem a areia do caminho deles, fazem bolas minúsculas de areia fina e empurram-nas para fora, fazendo desenhos abstratos lindíssimos no areal, sem o saberem. A realidade deles está para o mundo como a nossa para o universo. Muito filosófico, não?

Trouxemos algumas conchas e búzios para a nossa coleção e de repente eu mexo com os pés na areia, como fazia desde miúda no algarve à procura de conquilhas (já é um tique meu quando ponho o pé na areia) e elas lá aparecem! Conquilhas! Oh!!!! Que maravilha!!! Brancas, vermelhas, pretas, laranjas, rosa… há para todos os gostos! Passámos a manhã toda a apanhá-las para comermos ao jantar. Ainda tínhamos de encontrar um restaurante que as fizesse, mas não deve ser um problema. Assim foi, quando fomos almoçar, ao restaurante Roy, mesmo aqui ao lado do hotel (muito bom, por sinal), perguntámos se eles podiam cozinhá-las e quando eles disseram que sim, eu disse que lhes ia ensinar uma receita portuguesa.

Temos andado com a miúda francesa que acabou por ficar no nosso primeiro hotel, o Emerald Gekko, que é mesmo ao lado do nosso, e hoje passámos a tarde toda literalmente sentados na areia, dentro de água, com água até ao pescoço, a conversarmos com ela e contarmos as histórias que cada um de nós tinha para contar sobre o mundo. Ela ensinou-nos uns truques para tirarmos fotos melhores com a nossa máquina e entretanto viemos para o quarto, já depois do pôr do sol, para tomarmos um banho e prepararmo-nos para o nosso rico jantar de conquilhas!

Ela, chama-se Angèle, está a viajar há 1 ano pela ásia e tem imensas histórias no bolso para partilhar. Está a fazer uma espécie de documentário para ela própria, quase como uma tese, sobre como ainda existem pessoas no mundo capazes de fazer o bem sem ganhar nada em troca. Ou seja, quando encontra as pessoas, filma-as, faz entrevistas, tira fotos, vive com eles durante umas semanas ou meses, dependendo do grau de interesse dela e segue caminho até ao próximo destino.

Quando chegámos ao Roy, mostrámos as conquilhas e eles ficaram impressionados por nós irmos comer aquilo. Dissemos que eles também iam provar e eles torceram o nariz. Nunca tinham comido e não pareciam ansiosos por o fazerem. Eles deram-me permissão para entrar e cozinhar e eu lá comecei a minha “aula de culinária portuguesa”. Pedi o azeite, os alhos, os coentros, o sal e limão. Tudo para dentro de uma panela e lume! Começou a ferver e colocámos as conquilhas. Começaram a abrir e eles estavam de olhos postos naquilo, muito impressionados.

Quando estavam todas abertas, levámos para a mesa e as filhas do Roy foram as primeiras a experimentar e gostaram, já o Roy provou uma e disse que não queria mais. Entretanto chegou a Angèle e também lá provou uma (sendo vegetariana, já não foi mau!) e fomos conversando, Entretanto chegaram um Israelitas que já tínhamos conhecido no dia anterior e ficámos a conversar durante algum tempo, contando histórias sobre as nossas viagens, partilhando dicas e locais de “must do” pelo mundo fora.

Motion Sickness no seu pior

Ansiosos pelo primeiro dia de mergulho, lá fomos nós preparadíssimos para começar a explorar o mar indiano. Água a 29 graus a 30 metros de profundidade não é todos os dias que se encontra! Chegámos ao local e fomos buscar as nossas barbatanas, as botas e os pesos. Não queríamos  mergulhar com fato e fomos para o barco, um speed boat. O mar estava picado e eu comecei a ficar enjoada. Estava preocupada com não conseguir fazer o mergulho, porque já em Zanzibar me tinha acontecido e não consegui equalizar os ouvidos e tive de subir, acabando por vomitar o barco todo!

Mas lá chegámos ao local (Dixon’s) e atirámos-nos para a água. Tudo azul! Começámos a descer por uma corda e lá começamos a ver o fundo a 20 – 25 metros de profundidade. Foi um mergulho pacífico, sem grande variedade de peixes e pouca visibilidade. Não vimos nada de extraordinário, exceto um Bumphead que pelos vistos mora ali. Ok… Terminámos o mergulho e subimos para o barco. Eu comecei a ficar super mal disposta e eles disseram que ainda o outro grupo que estava connosco no barco ainda ia fazer mais um mergulho e eu achei melhor ir para dentro de água para não sofrer tanto com o enjoo. Mas nem dentro de água me sentia melhor.

Quando o outro grupo subiu, nós também fomos para cima para irmos para outro local para mergulhar. Mas quando o guia me diz que eles ainda iam mergulhar de novo ali, o meu mundinho desabou. Parecia que tinha levado um murro no estômago e pedi para fazer o segundo mergulho ali para poder ir para terra. Estava a aguentar o vómito por um fio e tinha esperança que dentro de água fosse aguentar melhor.

Lá nos atirámos lá para dentro de novo e eu comecei logo a descer sem esperar por ninguém. Esperei nos 10 metros de profundidade pelo resto do grupo e eles lá vieram devagar. Sentia-me bastantes melhor lá em baixo, sem a agitação das ondas. Literalmente como um peixe na água! Lá explorámos o coral e eu descobri uma moreia gigante metida entre o coral, numa “cleaning station”, com um camarão enorme metido dentro da boca dela a limpar-lhe os dentes! Brutal! Filmámos a cena e todos contentes, seguimos caminho.

Quando o mergulho terminou, eu só queria ir para terra! Mal chegámos à superfície, o ritmo das ondas só me fazia mal e o guia disse-me que o outro grupo ia fazer o ultimo mergulho noutro local e só depois íamos para terra. Morri! Só me apetecia chorar… Sentia-me tão mal, com o estômago tão quente, que a única coisa que eu queria era sair da minha beira! Lá fomos nós até ao outro spot para o outro grupo mergulhar. O nosso grupo era composto por nós os dois, um israelita e uma israelita e o guia, o segundo por uma russa (super antipática que mal falava), o seu namorado (bem mais velho, feio e super gordo, claramente o “sugar daddy” dela) checo e o guia deles.

Quando chegámos ao segundo dive spot, eles disseram que estava lá um barco que me podia levar para terra e eu agradeci aos céus! Lá mudámos para outro barco (o nosso grupo veio todo também) e fomos para terra! Mas quando eu pensei que chegando a terra estava a salvo do meu enjoo, estava enganada. Nunca me senti tão mal em terra. Isto nunca me tinha acontecido… É costume eu sentir que ainda estou dentro de um barco, mas não assim. Via tudo a andar à roda, o chão parecia que me batia na cabeça, como se eu fosse cair, a cada passo que dava. Pedi para me levarem para o hotel e nem sei como é que consegui chegar ao quarto. Deitei-me na cama e dormi durante 3h00 seguidas. Sem almoçar nem nada, sonhei que estava debaixo de água com os peixes e a moreia a passear, sem botija, tranquila da vida. 

Entretanto quando acordei já estava bem melhor, mas fomos cancelar os meus mergulhos para os próximos dias, porque nem pensar em passar por isso de novo! Eles ainda me tentaram convencer a ir, mas é que nem pensar. Preciso descansar, recuperar e relaxar.

A abordagem deles ao mergulho não é a mais convencional e são demasiado prudentes, o que faz com que o mergulho seja fraco, sem tempo nenhum junto aos corais. Eu explico. Quanto mais fundo se vai, mais oxigénio se consome, por isso eles quando chegámos aos 100 bar, levam-nos para os 10 metros de profundidade. Parece-vos mais seguro, certo? A questão é que normalmente entrámos na água com 200 bar e um mergulho dura cerca de 40 a 50 minutos, e como o tempo de descer e de subir é passado a pouca profundidade, deveria dar mais tempo para estarmos no fundo a ver o que queremos ver, certo? Normalmente são 25 a 30 minutos!

Mas estes indianos, fazem só 10 minutos de “bottom time” por questões de segurança e obrigam-nos a ficar a 10 metros, onde não se vê absolutamente nada, durante 20 minutos, onde se gasta pouquíssimo oxigénio. Ora bolas!

Ficámos ali a flutuar, como se estivéssemos no espaço sem nada para fazer a olhar uns para os outros. Enfim! Outro problema é que eles não mostram nada debaixo de água… Fui eu que descobri a moreia na “cleaning station” porque andava, como sempre, à procura de coisas, porque o guia estava concentradíssimo a olhar para o computador de pulso para ver quando é que tínhamos de subir. Atenção, todos nós dentro de água temos de estar atentos ao computador de mergulho, só estou a dizer que é possível conciliar as duas coisas. Mas temos de entender que são indianos e não há mais nada para compreender.

Fomos jantar (e descobrimos um sítio com internet excelente, pelo menos neste momento) e viemos dormir.

Just Chillin’

Como ontem tive uma péssima experiência no barco e os mergulhos não foram nada de extraordinário, hoje decidi ficar em terra e aproveitar o dia na praia, enquanto o Diogo foi dar mais uma hipótese ao mergulho para ter a certeza que de facto foi só azar. Tomámos o pequeno-almoço juntos, como fazemos sempre, faz parte da nossa rotina diária, mesmo em Portugal, e o Diogo lá foi e eu fui para a praia. Fiz a minha caminhada, apanhei conquilhas, nadei e conversei com os nossos novos amigos: a francesa (Angèle), um casal Israelita muito divertido e uma amiga deles, um francês, um casal alemão e uma espanhola. Muito internacional!

Pus toda a gente a apanhar conquilhas para depois à noite comermos. Parece que toda a gente gostou da minha receita portuguesa. A manhã foi muito animada entre conquilhas, banhos de sol e de mar e ainda mais histórias contadas pela Angèle que está a viajar há 1 ano já e esteve nas Filipinas onde se viu à deriva num kayak, graças a uma tempestade, onde uma semana antes tinha afundado um barco com 100 pessoas, cujos corpos nunca tinham sido encontrados! E ficou presa numa ilha deserta durante 7h00 com o, agora,  ex-namorado dela… Só boas histórias! O Hilad (o israelita) esteve na Colômbia e na Bolívia e como essa será a nossa próxima viagem, quisemos todos os pormenores! Pelos vistos, há um rio (o local chama-se Pampas) onde existem golfinhos cor de rosa. Nós duvidámos, mas ele garantiu porque viu com os próprios olhos!

A Angèle anda encantada connosco e com as nossas histórias, mas eu posso dizer que também ando encantada com as dela e com a aventura dela de viajar um ano, sem destino, sem nada marcado, apenas com a missão de encontrar boas pessoas neste mundo e entrevista-las. Ela estava no Butão, um dos meus destinos de sonho, na Indonésia (outro!), tem imensas histórias para contar e damos conta que ficámos as duas a conversar durante horas a fio sem darmos conta. Ela tem um namorado complicado, que já a traiu algumas vezes, não sabe como há-de reagir e eu vou dando os meus “sábios” conselhos de 36 anos (como ela diz) e tentado que ela se distraia do assunto, dizendo que a pessoa certa vai chegar e que ela ainda é nova, que devia aproveitar a vida e esta aventura que para ela está quase a chegar ao fim. Ela quer vir viver para o Porto e está super curiosa com todas as coisas que lhe contámos sobre Portugal.

Entretanto o Diogo chegou do mergulho e contou que viu golfinhos à superfície e um pufferfish enorme e que o peixe só queria ser acarinhado. Viraram amigos, tiraram selfies, contatos do Facebook e logo o pufferfish vem jantar connosco, gozámos nós, achando que era treta do Diogo por eu não ter querido ir mergulhar. Mas pelos vistos foi mesmo verdade e há vídeos para comprovar! Tenho a dizer que ainda não os vi! 😉

Fomos almoçar e bater uma soneca e num ápice chegou a hora de jantar e de fazer as conquilhas! Mais uma vez, o Roy e a família dele deixaram-me entrar na cozinha e lá estive eu a preparar tudo com mais de 10 olhos postos em mim, a tentar memorizar tudo. Entre conversas e gargalhadas, lá se comeram as conquilhas e o Roy trouxe como oferta montes de comida (que não aparece no menu) para nós experimentarmos! Top! Só coisas que eu nunca tinha ouvido falar, como por exemplo flor da banana com caril e papaia com masala… Fizeram a delícia de todos nós! Foi então que eu reparei que na nossa mesa estavam sentados judeus e alemães, a falarem alegremente como se nunca na história mundial, nem na história pessoal deles, tivessem sido rivais. Riam e contavam histórias, faziam perguntas sobre a economia, política, etc., como se fossem os melhores amigos deste mundo. Estranho não é, como as coisas mudam?

Estávamos todos alegres e fomos até um barbecue com música ao vivo (nada do que vocês estão a imaginar, atenção… é um bar de estrada, onde nos temos de sentar no chão) e bebemos umas cervejas. Mais histórias, dicas e destinos intrépidos partilhados, flamenco no telemóvel na espanhola (depois de já terem fechado o bar e todos os empregados já terem ido embora, apenas o dono estava sentado connosco) e planos para o futuro.

Viemos para a caminha, bem dispostos depois de um dia muito bem passado!

Scooter Day

Bom dia, meus amores! Agora que só falta uma semana para voltarmos e já começamos a ver as férias por um canudo, a melancolia começa a dar sinais de vida… Estamos a 2 dias de deixarmos este paraíso chamado Havelock, para irmos passar 1 noite a Calcutá e 2 dias a Varanasi. Mais um dia de viagem e estamos em nossa casa, com a Mafalda, de quem tenho tantas saudades! Já nado agarrada aos gatos daqui da ilha e falo para eles como se fossem a minha Micas…

Esta ilha é encantadora e rouba-nos um sorriso todos os dias ao acordar! O contraste do verde forte com os vários tons de azul do mar calmo e pacífico tipo piscina e a areia branca tão fina como farinha, com todos os casas-alugadas que se arrastam com as suas conchas enormes às costas, os caranguejos que fogem como o diabo da cruz sempre que nós nos mexemos, os 500 metros de maré vaza com água pelo tornozelo a 32 graus e as ondas a rebentar muito silenciosamente nos nossos pés, fazem a nossa delícia e deleite todos os dias de manhã. Se existe um paraíso na terra, é aqui. Para juntar a tudo isto, as pessoas são maravilhosas, super simpáticas e prestativas, querendo sempre tornar a nossa experiência ainda melhor. Já ofereci o meu macacão salmão a uma das filhas do Roy, que ficou super agradecida com o meu gesto, dando-me um abraço super apertado.

A minha companhia tem sido a Angèle, que passa a manhã comigo e as tardes connosco. Hoje passei a manhã na praia, com ela a ensinar-me a mexer na máquina fotográfica, no modo manual. Tirámos algumas fotos que irei partilhar convosco, mal tenha net suficientemente rápida para fazer o upload (aqui é desesperante ir à net e passámos 1h00 só para fazer upload de 1 foto).

Hoje voltei a não mergulhar, preferi ficar a relaxar na praia e a manhã passou a correr. Num instante o Diogo voltou e fomos alugar a scooter para irmos conhecer a ilha. As estradas estão em péssimo estado, cheias de buracos e solavancos, não facilitando a nossa viagem. A ilha tem mais de 80% da sua área coberta por floresta e ainda existem elefantes embrenhados na misteriosa vegetação, levando as suas vidas de forma calma e serena. O Roy contou-me que de vez em quando ainda se veem elefantes a atravessar o mar para ir de uma ilha para a outra. Eu gostava de ver isso, mas é tão raro que vai ser impossível. As árvores são altíssimas, com palmeiras a espreitar, pássaros que acompanham a nossa velocidade para apanhar os insetos que por ali andam, o céu azul forte e as pessoas que nos cumprimentam quando passamos.

Quando chegámos à praia número 7, a Radhanagar, uma das praias mais bonitas da ilha, estacionámos a scooter e vimos imensos indianos com as suas famílias, vestidos dentro de água (para não ficarem mais bronzeados), a levarem coças das ondas e a serem muitas vezes levados por elas, a tirarem selfies, a conversarem e a rirem-se. Hoje é quarta-feira, um dia normal de trabalho, e às 15h00 (hora da nossa chegada), a praia está cheia! Fizemos a nossa caminhada pelo areal e ficámos impressionados como a floresta é densa e a pressão que o verde faz sobre o branco da areia e o azul do oceano! O meu cérebro imagina um grande elefante a emergir de dentro dos ramos e folhas, com a sua grande tromba, acompanhado pela sua cria “pequenina” e a tomarem banho no mar. Era lindo presenciar isso! Os 2 elefantes domesticados que moravam naquela praia, morreram. Um mordido por uma cobra, há uns anos, e o outro de velhice há 3 meses atrás… Bad luck! Mais uns meses e poderíamos ter visto este cenário surreal e mágico. Eram muito bem tratados, ou não fosse o dono deles indiano.

Encontrámos a Angèle, o Marco (um francês) e uns ingleses que estavam com eles e ficámos sentados na areia a ver o pôr do sol. O sol hoje despediu-se primeiro em tons de rosa e azul, criando um ambiente que lembra um rebuçado, ou até um marshmallow, e mais tarde em tons rosa forte e azul indigo. Lá treinei mais um pouco a minha nova técnica com a máquina em modo manual, com a minha “professora” bem atenta e a dar-m dicas para aperfeiçoar a qualidade das fotografias.

Entretanto, o Diogo queixou-se que um mosquito lhe tinha entrado para o olho esquerdo e estive a tentar tira-lo. Como ele não conseguia ver para conduzir, porque não conseguiu voltar a pôr a lente que teve de tirar para tirar o mosquito, tive de ser eu a conduzir a scooter… estão a imaginar?? Eu… que nunca conduzi uma motorizada de género algum! É super difícil e o equilíbrio é essencial, mas a estrada cheia de buracos e o facto de estar a conduzir do lado errado da estrada foi o suficiente para não andar mais do que cerca de 5km e acabámos por trocar, com o Diogo a fazer o esforço, para ninguém se magoar a sério. Tenho de admitir que foi divertido, mas muito stressante, comigo responsável por duas vidas, a minha e a do Diogo, à noite, numa estrada onde só passa um carro, cheia de buracos (em contramão) e com carros e camiões a vir de frente! Nem sei como aguentei 5km…

Quando chegámos fomos jantar com a Angèle e o Marco e depois fomos ter com os israelitas ao Roy para combinarmos o programa do dia seguinte!

Dia de muitas emoções

Hoje convenci-me que mais valia aproveitar o último dia nas Andaman e fazer os mergulhos de despedida. Dei mais uma hipótese ao mar Indo-Pacífico e lá fomos os dois mergulhar, depois de eu tomar o comprimido contra o enjoo. A viagem de barco demorou 45 minutos, num mar picado e ondas consideráveis. Éramos 12 pessoas a bordo, incluindo a tripulação e 5 pessoas vomitaram, a contar comigo! Bati qualquer record e vomitei 3 vezes… A caminho de lá ainda me aguentei, fiz o primeiro mergulho e quando voltámos ao barco, tínhamos de esperar 1h00 para voltar a mergulhar, com o barco sempre a baloiçar no meio de ondas enormes e o meu corpo cedeu. Quando pensei que já estava resolvido, uma canadiana resolve vomitar na parte da frente do barco (inteligentemente, eu sentei-me na parte de trás do barco, onde o barco é mais estável) e lá vomitei de novo. Antes de entrar na água de novo, lá tratei do assunto de novo e saltei, ansiosamente, para fora do barco. Com o stress, perdi uma barbatana, enchi demais o colete, tinha apresilha a pressionar-me o pescoço e bebi água como se não houvesse amanhã… o que o stress faz!

Mas os mergulhos até não foram maus, mas nada comparados com o Borneo, ou Rangiroa, ou Palau. Vimos uma grande bola/nuvem de peixes a serem caçados por Trivalis e chegámos à conclusão que o melhor das Andaman é o tamanho dos peixes e as cores.

Lá voltámos para terra e fomos almoçar. Este grupo de europeus e Israelitas que conhecemos aqui são o máximo! Decidiram fazer uma festa de despedida para nós no restaurante do Roy. Fui ao mercado com o Marco (o único que tinha scooter) e comprei chocolate, ovos, açúcar e manteiga para fazer uma mousse como forma de agradecimento. Isto custou 13€… Super caro! 12 ovos, 1 pasta de chocolate de 500 gramas, 300 gramas de açúcar e um pacote de manteiga. Estamos na Índia rural, no meio de uma ilha e isto custa 13€??? Nossa!

A seguir o Marco deixou-me na escola de mergulho onde o Diogo já estava à minha espera, para terminarmos o curso avançado de mergulho. Lá identificámos os peixes que vimos, mostrámos as fotos e pronto! Mais duas partes do curso feito. Agora faltam outras duas para terminarmos e sermos “Advanced Divers”. Uuuuuhhhhh!!! LOL

Lá fomos nós para o Roy e já estavam os Israelitas a cozinhar, a Angele a fotografar e o Roy e a família a ajudar em tudo o que podiam e a oferecer mais do que o que deviam! No final da noite não cobraram nada e estavam felizes por nós estarmos felizes. É incrível como ainda há pessoas que dão sem esperarem nada em troca, para além de um sorriso e um abraço. Foi o que fizemos, rimo-nos imenso, dançamos ao som de hits indianos de filmes de Bollywood, com passos clássicos bollywoodescos, entre brindes, comida e sangria!

Estavam lá uns indianos, de Delhi, em que ele era Sikh, que tinham acabado de casar e quando a Angele lhes perguntou há quanto tempo de conheciam ela respondeu que tinham acabado de se conhecer. Choque!! Estavam de lua de mel, acabadinhos de casar e conheciam-se há dias! Cruzes! Foram os pais de decidiram casar os filhos, mas eles pareciam muito felizes e quem não soubesse, diria que eles se amavam muito e se conheciam há anos.

Foi uma despedida inesquecível e que guardaremos nos nossos corações para sempre.

Como em todas as despedidas, trocámos mails, contactos, promessas de nos voltarmos a ver, ideias de como isso poderá acontecer e quando seria a melhor altura para ir ali e acolá. A filha mais nova do Roy ofereceu-me uma tatuagem Hena no braço e mão, super bonita e trabalhada. Tem muito talento, a miúda! Tanto o Marco como a Angele prometeram estar na praia no dia seguinte às 8h00 e sem nos despedirmos destas duas pessoas tão queridas, fomos para o quarto com o coração cheio e melancólicos por nos irmos embora amanhã.

“Au revoir, Shoshanna”

Foi com um grande pesar que acordámos hoje, no nosso quartinho “de luxo” na nossa última manhã nas Andaman… Olhámos um para o outro e pensámos o mesmo – ficávamos aqui mais um mês! Levantámo-nos, arranjámo-nos e fomos tomar o último pequeno almoço. O de costume nos passados 7 dias: omeletes com queijo , torradas com manteiga e mel, panquecas, leite, café e sumo natural. Fomos pagar a conta do hotel e fomos até à tão maravilhosa praia de água quentinha, de um azul inesquecível e de areia branca.

Já lá estava o Marco, o Gabo (o Hungaro) e o dono do restaurante da escola de mergulho (que no jantar de ontem, quando eu lhe dei a receita da sangria, me disse que ia coloca-la no menu do restaurante e que a ia chamar de Filipa’s Sangria). Despedimo-nos de todos, molhando os pés na água uma última vez e o Marco disse que ia ter connosco à porta do hotel porque queria chamar a Angele que devia ter adormecido. Ele atravessou o hotel dele e nós o nosso para irmos nos despedir do Roy e da família dele, cujo restaurante fica a cerca de 30 metros do nosso hotel. Dissemos que eles tinham sido maravilhosos connosco, que adorámos tudo, que se voltarmos íamos ter com eles e que o mundo era melhor com pessoas como eles! Dissemos adeus e quando chegámos à porta do hotel, já tínhamos o riquexó à nossa espera… O Marco e a Angele não estavam lá e tivemos de ir embora sem nos despedirmos deles.

Olhámos para trás e dissemos adeus a um sítio que nos vai ficar no coração para sempre.

Lá fomos no ferry das 9h00, em classe executiva (a mais baixa de todas, mas onde não vimos uma única barata) e quando atracámos em Port Blair, 2h30 mais tarde, fomos almoçar, cheios de fome! Port Blair é uma cidade caótica, quente, suja e sem interesse nenhum. Não há nada para ver nem fazer, por isso, fomos 4h00 mais cedo para o aeroporto para podermos dormir um pouco, esperando que no aeroporto houvesse net para nos entretermos. A realidade é que acabámos deitados no chão do aeroporto a dormir durante quase 2h00!

Lá embarcámos e despedimos-nos das Andaman, rumo a Calcutá.

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